Pensamentos de Fénelon.

O trecho seguinte foi dirigido a uma dama da corte que se queixava de estar sempre triste:

« Muitas vezes a tristeza vem de que, procurando a Deus, nós não temos o sentimento da sua presença. Querer sentir não é querer possuir: é uma espécie de amor próprio; queremos ter certeza de possuir, para só então sentir a consolação. A nossa natureza comum se impacienta de viver apenas da fé. Ela quer sair dessa situação, porque na verdadeira fé, parecem faltar os apoios; a alma fica como que no ar; ela gostaria de “sentir” que está progredindo. Gostaríamos, por amor próprio, de ter o prazer de nos vermos perfeitos; resmungamos porque isso ainda não é visível; ficamos impacientes, altivos, de mau humor contra os outros e contra nós mesmos. É um erro. Como se a obra de Deus pudesse concretizar-se pela nossa tristeza! Como se pudéssemos nos unir ao Deus da paz perdendo a paz interior… “Marta, Marta, você se preocupa com muitas coisas”, diz o Cristo, que acrescenta: “Só uma coisa é necessária”; e essa coisa é amá-lo e saber viver tranqüilamente a seus pés. »

As cartas de direção espiritual que Fénelon escreveu são famosas; de uma delas extraiu-se o trecho seguinte:

« É certo, segundo a Escritura, que o espírito de Deus habita dentro de nós, que ali ele age, reza sem cessar, geme, deseja, pede o que nós mesmos não sabemos pedir, nos anima, nos impele, nos fala em silêncio, nos sugere toda a verdade, e nos une de tal modo a ele que nós nos tornamos um mesmo espírito com Deus. Eis o que a fé nos ensina; eis o que os doutores mais afastados da vida interior não podem deixar de reconhecer. Entretanto, apesar desses princípios, eles tendem sempre a supor, na prática, que a leiexterior, ou uma certa luz de doutrina e de raciocínio, nos ilumina interiormente, e que em seguida é a nossa razão que age por ela mesma a partir dessa instrução. Não contamos suficientemente com o mestre interior que é o Espírito Santo, e que faz tudo em nós. Ele é a alma da nossa alma: não poderíamos formar nem pensamento nem desejo a não ser por ele. Infelizmente, assim é a nossa cegueira: agimos como se estivéssemos sós nesse santuário interior; quando, bem ao contrário, Deus está ali mais intimamente do que nós mesmos ».

O trecho seguinte chama-se “Fidelidade nas pequenas coisas”:

« Gostaríamos cem vezes mais de fazer a Deus alguns grandes sacrifícios, por dolorosos que fossem, com a condição de ganhar em seguida a liberdade de seguir nossos gostos e hábitos em todos os pequenos detalhes. E, no entanto, é pela fidelidade nas pequenas coisas que a graça do verdadeiro amor se apóia, e se distingue dos fervores passageiros ».

« Deveríamos saber que Deus não considera tanto as nossas ações quanto o espírito de amor com que as praticamos. As pessoas julgam as nossas ações pelo exterior; mas para Deus, pouco importa o que brilha aos olhos dos homens. O que Ele quer é uma intenção pura, é uma vontade dócil em Suas mãos, é um sincero desprendimento de nós mesmos. Esse exercício pode ser praticado muito melhor nas coisas comuns do que nas extraordinárias — onde a tentação do orgulho é sempre muito grande ».

« Tudo o que pedimos é morrer antes de sermos infiéis ao Senhor. Não nos dê a vida se formos amá-la demais ».

« Muitas vezes nossos erros nos beneficiam mais do que nossos acertos. As façanhas enchem o coração de presunção perigosa; os erros obrigam o homem a recolher-se em si mesmo e devolvem-lhe aquela prudência de que os sucessos o privaram ».

« Senhor, dê a nós, seus filhos, aquilo que não sabemos pedir. Não teríamos outro desejo a não ser cumprir Sua vontade. Ensina-nos a rezar, ora em nós ».

« Meu Deus, resquarde-me da escravidão fatal que os homens insanamente chamam de liberdade. Apenas no Senhor está a liberdade. É a Sua verdade que nos liberta. Servir ao Senhor é a verdadeira conquista ».

« Não basta mostrar a verdade, é preciso apresentá-la amavelmente ».

« Já é saber muito quando se sabe que não se sabe nada ».

« O mais livre de todos os homens é aquele que consegue ser livre na própria escravidão ».

« Nenhum poder humano consegue forçar o impenetrável reduto da liberdade de um coração ».

« Desconfiem dos sábios e dos grandes argumentadores. Eles esmorecem à volta dos problemas […], a sua curiosidade é uma avareza espiritual que é insaciável. São como os conquistadores que destroem o mundo sem o possuir ».

« Antes de buscarmos o perigo, torna-se indispensável prevê-lo e temê-lo; mas, quando estamos metidos nele, só nos resta desprezá-lo ».

« Aquele pensa que sabe muito, mas não sabe de nada, e a sua ignorância é tanta que nem sequer está em condições de saber aquilo que lhe falta ».

« Aqueles que nunca sofreram não sabem nada; não conhecem nem os bens nem os males; ignoram os homens; ignoram-se a si próprios ».

« Desejar o impossível é doença da alma ».

« Se quereis formar juízo acerca de um homem, observai quem são os seus amigos ».

« Reservando ao pintor a tarefa severa e controlável de começar os quadros, atribuímos ao espectador o papel vantajoso, cómodo e cómico de os acabar pela sua meditação ou pelo seu sonho ».

« Só é digno de glória o coração capaz de suportar o desgosto e de desprezar os prazeres ».

« A pátria de um porco encontra-se por toda a parte onde há bolotas ».

« As injúrias são os argumentos daqueles que não têm razão ».

« As almas belas são as únicas que sabem o que há de grande na bondade ».

« Todos os homens procuram a paz da alma, mas não a procuram onde ela existe ».

« Tão-somente o infortúnio pode converter um coração de pedra num coração humano ».

« A avareza e a ambição mostram-se mais descontentes do que não têm, do que satisfeitas com o que possuem »

« Para que uma obra de arte seja realmente bela, é preciso que nela o autor se esqueça de si mesmo e me permita esquecê-lo ».

« É indigno de um homem honesto servir-se dos restos de uma amizade que termina, para satisfazer um ódio que começa ».

 


 

Bibliografia

 

Internet : Pagina Espirita 9 de setembro de 2014

Fonte; http://coracaomistico.blogspot.com.br/2007/12/franois-fnelon.html