Palavras de Allan Kardec.

Malgrado os ataques, as constestações e as elucubrações de uns tantos, a doutrina espirita continua, quer queiram, quer não, como sendo uma ciência, filosofia e moral, tal qual lucidamente a qualificou Allan Kardec, seu Codificador.

“Talvez nos contestem a qualificação de ciência, que damos ao Espiritismo. Certamente não teria ele, em nenhum caso, as características de uma ciência exata, e é precisamente aí que reside o erro dos que o pretendem julgar e experimentar como uma análise química ou um problema matemático; já é bastante que seja uma ciência filosófica. Toda ciência deve basear-se em fatos, mas os fatos, por si sós, não constituem a ciência; ela nasce da coordenação e da dedução lógica dos fatos: é o conjunto de leis que os regem.

“Chegou o Espiritismo ao estado de ciência? Se por isto se entende uma ciência acabada, seria sem dúvida prematuro responder afirmativamente; entretanto, as observações já são hoje bastante numerosas para nos permitirem deduzir, pelo menos, os princípios gerais, onde começa a ciência espirita.

O exame raciocinado dos fatos e das conseqüências que deles decorrem é, pois, um complemento sem o qual nossa publicação seria de medíocre utilidade, não oferecendo senão um interesse muito secundário para quem quer que reflita e queira inteirar-se daquilo que vê. Todavia, como nosso fim é chegar à verdade, acolheremos todas as observações que nos forem dirigidas e tentaremos, tanto quanto no-lo permita o estado dos conhecimentos adquiridos, dirimir as dúvidas e esclarecer os pontos ainda obscuros.

Nossa Revista será, assim, uma tribuna livre, em que a discussão jamais se afastará das normas da mais estrita conveniência. Numa palavra: discutiremos, mas não disputaremos. As inconveniências de linguagem nunca foram boas razões aos olhos de pessoas sensatas; é a arma dos que não possuem algo melhor, voltando-se contra aqueles que dela se servem.”

 

De Kardec até à actualidade

 

Esta linha de conduta adoptada por Allan Kardec, devera ser a linha de conduta de todo espirita. E mesmo se hoje muitas das situações existentes no tempo do Mestre ja não existam, na actualidade, até porque mudaram a mentalidade, os meios de expressão e o desenvolvimento da doutrina espirita que por sua vez deu um salto na via do progresso, não em mudança de questões fundamentais inerentes ao corpo doutrinario, mas na adesão a que chegaram bastantes pessoas, incluindo aquelas que não obtendo resposta junto de suas correntes filosofico-religiosas, se aproximam do espiritismo para encontrarem certas respostas que procuram.

As manifestações dos Espiritos e as suas implicações na vida de uns e outros, tem sido uma das grandes portas que necessariamente se abriram e levaram ao amadurecimento das mentalidades relativamente a estas problematicas. E malgrado as duvidas e as impressões que geram no inicio da eclosão das manifestações, diversas e variadas, afinal tem sido nos centros espiritas que se têm encontrado resposta e solução a um cem numero de situações.

Que todos os que vêm ao encontro da casa espirita tenham tido a resposta mais conveniente e capaz de lhes adiantar a paz, o sossego e um melhor bem-estar fisico e psicologico, certamente que não ! Aqui, as situações inerentes ao movimento espirita e as dificuldades do vulgo para aceitar as nossas explicações nem sempre são optimais. Nem sempre existe por parte dos que nos procuram a atitude certa, a paciência para obter resultados, cujos não podemos garantir a todos e em todas as situações.

Prende-se com todos nos, a soma daquilo que fômos no passado existencial, que por efeito da lei de causa e efeito ainda não conseguimos desvencilhar-nos e são na actualidade a razão das provas inerentes a uns e outros. Sabemos que a fé individual e a capacidade a diminuir o peso que transportamos de vidas anteriores, a pratica do bem e da caridade, muito contribuirão para ameinarmos a nossa vivência e a caminhada, pondo fim as provas de que vimos falando. So aqui se encontra a resposta e a solução definitiva, a muitos casos, inerentes à lei de progresso, individual e colectiva.

 

Adaptação e reformulação no campo da obsessão-desobsessão

 

Uma vez isto dito, devemos admitir que os serviços oferecidos à humanidade pela intervenção e a difusão a que se prendem as actividades espiritas, tem sido imensas e valiosas no campo do sofrimento e da dôr, e na hora actual tudo indica que as necessidades tenderão a crescer não so no campo da assistência para os sofirmentos existentes, mas como palavra e explicação para a paz intima e o equilibrio da Alma.

Daqui podermos deduzir da intervenção crescente e em campos diversificados em que se encontram implicados os espiritas, particularmente quantos dentre nos intervêm dinâmicamente nos centros, para afagar a dôr. Ora, nada na pratica doutrinaria pode ser improvisado, uma formação e qualificação se torna iminentemente necessaria. Não para advirmos profissionais e assalariados, mas porque a qualidade do trato a que devemos aceder devera ter por base uma formação segura e qualitativa.

A mediunidade impõe-se cada vez mais, não como advinhação ou profetização do futuro, mas como faculdade preciosa cujos serviços e limites estão longe de se eclipsar. Os casos de obsessão, mais ou menos importantes, e as situações obsidiantes, mantêm-se e crescem diariamente e a mediunidade assistencial adaptada a cada caso ou seja em sentido largo à desobsessão ainda tem uma grande soma de realizações a fazer. Particularmente, quando muitos dos centros existentes ja não elaboram estudos e preparação qualificante em direcção desta necessidade.

Por receio de passar por dificuldades, sentimento de não poderem ultrapassar certas barreiras que se instalaram e que os proprios centros deixaram instalar, amortecendo as suas perspectivas e deixando de fazer escolhas nesse sentido.

Embora o tempo passe e se percam oportunidades de saneamento mediunico, ainda não é tarde para se fazer a analise e a retrospectiva para se tomarem medidas e encontrar solução para oferecer assistência e auxilio às victimas da obsessão, vinda do estado do mundo em que estamos inseridos, como também daquele a que chamamos de invisivel. Ha espinhos nesta caminhada, sim, irmãos espiritas. Mas ha soluções e a pratica da Caridade mantêm-se como o baluarte das nossas proprias necessidades e daqueles que sofrem e são nossos irmãos em humanidade.

 


 

Bibliografia

 

Este artigo da responsabilidade da redacção da Epadis, foi realizado a partir da leitura da Revista Espirita de Janeiro de 1858, da qual Allan Kardec era responsavel.