O que é o perispírito ?
O perispírito segundo « O Livro dos Espíritos », é o corpo intermediário ou ligação que une o Espírito (propriamente dito) e o corpo. Ainda tratando da natureza do corpo intermediário, diremos que é semi-material, nem totalmente material, nem totalmente fluídico. Única possibilidade para que entre o Espírito e o corpo possa haver, comunicação, relação, ligação, de forma a que o Espírito possa agir sôbre a matéria e esta sôbre o Espírito.
Depreende-se a partir da composição essencial que o Homem é formado de três partes essenciais : 1° o corpo material, muito semelhante aos dos animais, não tanto na aparência, mas na sua composição orgânica e no principio vital que anima um e outros. 2° O Espirito ou a Alma, (esta é corpo e perispírito) é o Espirito encarnado, ou seja habitando o corpo, envoltório, envelope. 3° O perispírito, corpo intermediário, feito de substância semi-material, envoltório primeiro do Espirito, seu elemento de ligação e união ao corpo. O que ainda se verifica também na constituição de um fruto partindo do centro : semente, polpa e casca.
E o perispírito que servindo de equipamento ao Espirito lhe permite manter a sua individualidade, particularmente após a morte. Uma vez o corpo material perdido, através da morte, é o perispírito que lhe garante a individualidade e a possibilidade de ser reconhecido na aparência da sua ultima encarnação.
Função da atmosfera do planeta, é nesta que o perispírito vai buscar o fluido apropriado para se compôr e formar. Este fluido não é o mesmo em todos os planetas, mas em todos eles, quando o Espirito perde o corpo, é sempre o perispírito que lhe serve de corpo, da sua forma, embora mais ou menos etéreo (etéreo igual a fluídico), também, ha hoje quem lhe chame MOB – Modelo Organizador Biológico).
As funções do Perispírito são diversas : 1° Função de contenção, no sentido de conter, delimitar, dar contôrnos e aparência ao Espirito, tornando-o perceptível e visível. 2° Função de organizar, esquematizar e estruturar a morfologia dos órgãos que compõem o corpo. 3° Função de intermediário ou ligação, para movimentar-se, nos dois sentidos, do perispírito para o corpo e deste para o perispírito. 4° Função de intercâmbio recebendo os impulsos e movimentos, acções, reacções, e pensamentos, ditados pelo Espirito, em função das detecções recolhidas e das necessidades.
As propriedades do perispírito são múltiplas : 1° A Plasticidade, permite-lhe de se moldar em função do comando mental e do nível evolutivo do indivíduo. Até porque esta propriedade resulta das suas vivências anteriores e das condições actuais de moralização e espiritualização ou seja da sua realidade intima. 2° A Densidade, porque sendo matéria quitessenciada, é matéria, dai a sua densidade. Esta varia de indivíduo para indivíduo, sendo o grau de evolução destes. Allan Kardec no « Livro dos Espíritos » diz : « Nos Espíritos moralmente adiantados é mais sutil e se aproxima da dos elevados ; nos Espíritos inferiores, ao contrario, aproxima-se da matéria e é o que faz os Espíritos inferiores de baixa condição moral conservarem por muito tempo as ilusões da vida terrestre. » (1)
2° A Ponderabilidade, devido a sua formação de matéria subtil, quitessenciada, o corpo espiritual, não apresenta, em si, um peso de detecção fácil, mas teoricamente tem peso. A titulo de esclarecimento André Luiz (Espirito) afirma : « Nossa posição mental determina o peso especifico do nosso envoltório espiritual e, consequentemente, o ‘habitat’ que lhe é proprio. Mera questão de padrão vibratório ». De qualquer forma o perispírito sendo matéria, ainda que ténue, esta submetido ao principio gravitacional do meio em que reside e no qual se nutre. » (2)
3° A Luminosidade do perispírito, esta na razão da intensidade luminosa da pureza do Espirito, as imperfeições morais, por menores que sejam, atenuam-lhe, enfraquecem-lhe a intensidade. Dai que quanto maior fôr o seu adiantamento moral, maior sera a luz que ele irradia.
4° A Penetrabilidade, significa que «nenhuma matéria lhe opõe obstáculo, ele as transpõe todas, como a luz penetra os corpos transparentes ». Allan Kardec nota : « Desta condição advém que não ha como impedir os Espíritos de penetrarem num recinto inteiramente fechado ». Adiantamos que por ignorarem a possibilidade de o fazerem, Espíritos menos adiantados não conseguem transpôr os obstáculos materiais que encontram. (3)
5° A Visibilidade, o perispírito, em si, é invisível aos olhos físicos. Embora não o seja para os Espíritos, mais evoluídos. Os menos evoluídos percebem somente o perispírito dos Espíritos de grau evolutivo equivalente. Como dizíamos, os mais evoluídos ou Superiores, podem perscrutar a intimidade perispiritual dos desencarnados de menor grau de elevação. E também a dos encarnados, nos quais observam a desarmonia e as necessidades.
6° A Corporeidade, o perispírito enquanto corpo perispiritual, resulta de um campo luminoso que a alma projeta. Campo esse aglutinador dos recursos da natureza terrestre, dai o surgir como estrutura quase material ou instrumento. O Espirito tem condições para se corporificar materialmente, en condições transitórias. E assim o que se verifica nos processos de materialização, largamente estudados, nos quais se observou a capacidade de materialização, isto é, nesses casos o perispírito aglutina quantidades ectoplásmicas disponíveis, para assumir a aparência material, visível. Muitos foram os cientistas que verificaram tal fenômeno, por meio e presença de vários médiums.
7° A Tangibilidade, é a possibilidade de se tocar no perispírito, na condição de ele se aliar o suporte ectoplásmico, dando-lhe expressão física. Casos estes também observados cientificamente.
8° A Sensibilidade Global, é a percepção do meio que envolve o Espirito, sem o corpo fisico, registra-se como sendo a percepção do Espirito, através do ver, ouvir, sentir, do corpo espiritual que é o seu.
9° A Sensibilidade Magnética, sendo o perispírito um campo de força, sustentando uma estrutura semi-material, esta permite-lhe ser sensível a acção magnética. Dai, que no processo do passe o Espirito assistente, acumule energia, e estimule a sensibilidade do médium, ou seja a conjugação das suas forças, psíquicas e vitais, com as do médium passista, e dai a transmissão dos recursos de tratamento e cura.
10° A Expansibilidade, é a capacidade de expansão do perispírito, indivisível, conforme as suas condições, o que lhe proporciona ampliar o seu campo de sensibilidade e de percepção. E graças a essa propriedade é que se torna possível o contacto de perispírito a perispírito, enquanto transmissão aquando do fenômeno mediúnico, embora esta requeira o funcionamento da Glande.
11° A Bicorporeidade, sendo um termo criado por Allan Kardec para designar o fenômeno de desdobramento, ou seja a faculdade do perispírito em condições especiais, de aparecer não uno, mas duplo.
12. A Unicidade, significa que a estrutura perispirítica, sendo o reflexo da alma, é única como esta. Não existem perispíritos exactamente iguais.
13° A Mutabilidade, embora o perispírito no decorrer do processo evolutivo, seja ou não susceptível de se modificar, no que se refere à sua substância, pode no entanto modificar a sua estructura e forma. E assim que se conhece a acção de o Espírito mudar seu aspecto, na medida em que domina as suas forças mentais. Allan Kardec diz que : « o envoltório perispirítico de um Espirito se modifica com o progresso moral deste em cada encarnação ». (4)
14° A Capacidade refletora, é a capacidade radiante, de refletir, em virtude dos tecidos rarefeitos, subtis, influindo nas formas-pensamentos e também na dimensão física modificando os seus centros vitais.
15° A Capacidade de odoração, na medida em que o perispírito se reflete na aura (lastro energético) também emite o odôr que o caracteriza, sendo este facilmente perceptível pelos Espíritos.
16° A Temperatura, através da actividade mediúnica, certos médiuns registram temperaturas mais ou menos frias e até gélidas, assinalando a presença de Espíritos sofredores, ou também caso inverso, temperaturas cálidas ou ainda elevadas, com sensações de bem-estar, desde que se aproxime um Espirito elevado ou Superior. Este fenômeno esta em relação com o grau de evolução do Espirito presente ou em comunicação.
Ponto de vista sôbre o perispírito.
O escritor e militante espirita brasileiro Deolindo Amorim, falando do perispírito e da sensibilidade, deste, escreve : « Um dos aspectos dentre os mais importantes do estudo do perispírito, na medida e porque se situa no domínio da moral, é o da sensibilidade. (…) As propriedades do perispírito são diversas. Ja podemos apreciar ligeiramente a irradiação e a expansão, através dos fenómenos de desaparecimento de pessoas, objetos, por exemplo. Ja se procurou melhor compreender as causas das modificações do perispírito na medida em que o espirito evolui, e se aperfeiçoa. Mas é sobretudo, com a sensibilidade que se encontra a mais intima e lógica relação entre o perispírito e o estado moral do espirito. »
E Deolindo Amorim prossegue o seu escrito : « A matéria do perispírito, cuja constituição ainda enfrenta estudos e investigações, é sensível, profundamente sensível. As acções do espirito, boas ou mas, mantêm-se gravadas no perispírito, que é parte integrante do sêr inteligente e que, então, é o reflexo da inteligência, da vontade e das tendências do espirito. E fazendo compreender melhor o que entende transmitir-nos, serve-se dos escritos de Allan Kardec a propósito desta matéria : « Embora fluídico (o perispírito) não é menos uma forma da matéria, isto resulta dos factos das aparições tangíveis » … « Vimos, sob a influência de certos médiuns, aparecer mãos com todas as propriedades de mãos vivas, com calôr, que podemos apalpar, que demonstram a resistência de um corpo solido, que vos envolvem, e imediatamente, desaparecem como uma sombra » (5)
Não tendo, como vêmos, a mesma resistência que a matéria constituinte do corpo fisico, a tangibilidade do perispírito não é longa, enquanto duram indeterminadamente os fenômenos de materialização.
Tanto mais subtis ou grosseiros sejam os seus fluidos, o perispírito reflete o pensamento do espirito, exteriorizando as suas passions ou as suas boas acções. Investigadores respeitáveis e rigorosos, procuraram estudar a sensibilidade do perispírito e deixaram como resultado das suas investigações, trabalhos de valôr inestimável. Dentre eles Rochas, (*) um homem de ciência largamente respeitado nos meios da cultura francesa, como « A exteriorização da sensibilidade ». Na obra « Problema do sêr e do destino », Léon Denis transcreve uma comunicação do espirito Charles Fritz, um espirita convencido digamos. Nesta comunicação, existe uma passagem deveras interessante a propósito do perispírito. Ei-la : « O passado encontra-se no fluido do homem e, por via de consequência, do espirito. O perispírito é como um espelho de todas as suas acções e sua alma, se sua vida foi ma, contemplara com tristeza as suas faltas, inscritas, segundo parece, na parte oculta do corpo espiritual.
E desta maneira, que todas as acções do espirito se gravam no perispírito. O que denominamos « Bagagem de faltas ou de erros », acompanha o espirito desencarnado, sem possibilidade de ser escondido depois da morte, mas mantêm-se visivelmente gravado no perispírito. Tais informações, sem que delas duvidemos, são bem conhecidas de quantos estudam a doutrina na medida em, que se encontram nas obras fundamentais sôbre esse tema. No entanto, tudo isso esta em relação, em todas as épocas, com o progresso do espirito, pois se toda a gente soubesse que o perispírito é uma espécie de espelho ou écran no qual as acções praticadas se revelam, haveria certamente uma maior preocupação a propósito da vida futura.
Nesta longa e clarificante explicação Deolindo Amorim prossegue : « Não são so os materialistas (se de facto existem materialistas convencidos), mas também espiritualistas numerosos, pertencendo a diversas escolas, que admetem a extinção das faltas cometidas, desde que a vida orgânica cessa… O espiritismo, no entanto, sendo a doutrina mais indicada para explicar as propriedades do « envelope fluídico », aprofundou este assunto e encontrou no perispírito, ou corpo etéreo, a reprodução fiel das acções humanas. Durante o tempo em que dura a sua encarnação, o homem pode ocultar, no fundo secreto da consciência, os maiores crimes quanto as mais belas virtudes. Mas, desde que se encontre desencarnado, todas as faltas ou méritos se revelam no seio do perispírito.
O homem pode mentir aos seus semelhantes mas, o espírito, não pode mentir a ele-mesmo, porque o perispírito grava os seus pensamentos e suas acções, tornando-as visíveis no mundo espiritual. Vemos assim, que o perispírito, embora não pense nem tome alguma decisão tendo por causa uma consciência própria, é um corpo sensível, que grava sem enganar as acções do espirito. Rochas, aquando das suas experiências, conseguiu isolar o perispírito e acabou por admitir que o corpo fluídico é a « sede da sensibilidade e das lembranças ». (6)
Finalmente, o estudo do perispírito exerce uma grande influência na compreensão da vida espiritual. Enquanto o homem ignora o facto que o corpo etéreo grava todas as suas acções e todos os seus pensamentos, a falsa idéia da extinção da responsabilidade espiritual o engana. O estudo do perispírito, descobre um dos aspectos mais respeitáveis da vida, conduzindo o homem a encarar melhor o problema do mundo espiritual, no qual as suas cicatrises morais tanto quanto as suas boas qualidades serão contempladas por êle-próprio, através do espelho natural do seu caracter fixo no perispírito.
Tanto mais o espirito tente fugir a toda a responsabilidade, em cada passo, em qualquer situação, o perispírito designa-lhe um por um os traços do seus caracter, as grandezas ou as misérias do seu passado. A sensibilidade do perispírito não somente um assunto que interessa unicamente a parte científica do espiritismo. Tem consequências sobretudo na parte moral, porque é no conhecimento do perispírito que se pode ser instruído da responsabilidade pessoal em numerosos actos e pensamentos que não se podem desgravar, nem esconder, desde que mais cedo ou mais tarde acabarão por aparecer aos nossos olhos espirituais durante a longa trajetória do espirito. O perispírito não é uma facto exclusivamente reservado aos entendidos e aos laboratórios, porque é um tema de meditação, profundamente ligado ao destino e ao progresso moral do espirito. (7)
Bibliografia
(1) Allan Kardec no « O Livro dos Espíritos » Segunda Parte – Capitulo IV° – Pag. 89 (Anotações).
(2) André Luiz (Espirito) e Francisco C. Xavier (médium) no livro « Entre a Terra e o Céu », cap. XX.
(3) Allan Kardec, em « Obras Postumas » pag. 47 e 48.
(4) Allan Kardec, em « A Génese » cap. XIV.
(5) Allan Kardec, no « Livro dos Médiuns », cap. II, n° 57. Citado por Deolindo Amorim.
(6) Léon Denis, no livro « Problema do sêr e do destino ».
(7) O texto de « Mais um ponto de vista sôbre o perispírito » até ao (7) é de autoria de Deolindo Amorim.
(*) Albert de Rochas, nasceu em 20.5.1837 e faleceu em 2.9.1914 em França. Militar e administrador francês, autor de estudos históricos e experimentador de fenômenos paranormais. Consagrou os últimos anos da sua vida a pesquisar sôbre o espiritismo, magnetismo, hipnose, levitação e reencarnação. Escreveu varias obras das quais uma sôbre « A exteriorização da sensibilidade ». Escreveu inúmeros artigos em varias revistas de vulgarização cientifica.