« Queridos irmãos,
Que a Paz do Senhor esteja com todos e que a recebais em harmonia íntima e em serenidade coletiva.
Muito se pode dizer, e escrever, acerca do murmúrio. Esta palavra tão simples encerra uma multiplicidade de ideias que escapam frequentemente aos irmãos menos atentos.
Em primeiro lugar, procedamos a uma análise do que entendemos por murmúrio. À partida, sabemos que o murmúrio é falar num tom de voz mais baixo e quase inaudível, em algumas ocasiões.
Murmurar, em sentido mais literal, opõe-se ao gritar; murmurar implica ainda, supostamente, um maior controlo por parte do emissor, nem que seja pelo menos no volume utilizado para transmitir a sua mensagem.
Nesta primeira leitura, o murmúrio será então entendido como algo de positivo, pois impediria que um tom de voz elevado perturbasse a harmonia coletiva.
Em segundo lugar, procedamos a uma análise de um outro significado do murmúrio, já não na forma, mas no fundo.
Nesta segunda análise, remetemos para o murmúrio enquanto queixa, lamentação ou crítica. Há quem murmure, para si, palavras de ódio que não dirige em voz alta aos seus recetores, mas que não deixam de ter o mesmo impacto e a mesma intenção do que se o fizesse de forma aberta e frontal. Há ainda quem murmure ao ouvido de outros críticas e julgamentos contra terceiros com o fim de instigar inimizades e com o intuito de transformar sentimentos de amor em ódio ou de reforçar algum mal-estar nascente ou iminente. Há igualmente quem se dedique ao murmúrio para justificar as suas ações, encontrando em quem os ouve apoio, uma vez que o murmúrio dá, de imediato, uma sensação de intimidade, de proximidade e de identificação, ilusórias para os mais avisados, mas muito reais para os menos prevenidos.
O murmúrio não deixa, portanto, de ser uma extensão do pensamento, apenas feita em tom de voz mais baixo e, portanto, mais impercetível ao ouvido humano. No entanto, sabemos que o murmúrio não é inaudível para os que leem corações e pensamentos; o murmúrio não passa despercebido àqueles que se dedicam ao bem, mas pode perturbar mesmo aqueles
que não os ouvem com os ouvidos humanos, pois não é por não serem ditos em voz alta que os sentimentos emitidos não chegarão aos seus destinatários.
Como podemos observar, o murmúrio raramente abona em favor de quem o pratica e de quem o recebe, direta ou indiretamente. O que é legítimo ser dito não precisa de ser murmurado, mas sim clamado em alto e bom som.
Nesta perspetiva, compreendemos então que o murmúrio pode ser associado às nossas provas, pois ele pode transportar a carga deletéria de um ataque à nossa paz e estabilidade e pode ser um meio de os nossos inimigos encarnados e desencarnados atingirem a nossa serenidade.
Todo e qualquer espírita sabe que encontrará na Terra maldades e inimigos do passado aos quais estará exposto; todo espírita sabe também que esta exposição lhe será mais ou menos difícil e sofrida conforme a sua própria disposição em se deixar por ela influenciar; todo espírita sabe que quanto mais elevado moralmente, menos suscetível estará a estas vicissitudes e mais forte estará para as ultrapassar; todo espírita sabe que, se não se deve murmurar contra as provas que lhe são colocadas no caminho, também não deverá murmurar contra aqueles que lhes servem de instrumento; todo espírita sabe que deverá procurar substituir a lamentação pelo agradecimento, pois terá mais uma oportunidade de demonstrar a sua paciência, generosidade e tolerância; todo espírita sabe que deverá ser capaz de perdoar porque o perdão o colocará acima das vicissitudes e assim fora do alcance dos ataques maliciosos e dos murmúrios destruidores dos seus inimigos; todo espírita sabe que aquele que se eleva moralmente estará imune ao ódio e ao rancor, à crítica e ao murmúrio; todo espírita sabe que o murmúrio o avilta e rebaixa, enquanto que o amor, a compreensão e a tolerância o elevam e enobrecem; todo espírita sabe, finalmente, que ninguém está livre das tentativas de destabilização, mas que está nas suas mãos cair, ou não, nessa armadilha muitas vezes apresentadas em forma de murmúrio.
Irmãos, amai-vos e respeitai-vos; amparai-vos e uni-vos, pois não faltam, à vossa volta, inimigos prontos a separar e perturbar. Ide e caminhai, com confiança, serenidade e paz, cientes, e conscientes, do vosso papel e da vossa responsabilidade.
Com amor,
F.P »
Venade, 06 de agosto de 2019.
BR, pelo Espírito F. P.