O Homem e o mal.
Com o sofrimento as almas se apuram, se nobilitam e elevam à alta concepção das coisas e das leis, abrindo-se à piedade e à bondade.
Assim se resolve o problema do mal. O mal não é mais que um efeito de contraste ; não tem existência própria. O mal é, para o bem, o que a sombra é para a luz. (Léon Denis, in Cristianismo e Espiritismo.)
Nesta nossa intenção de esclarecimento em relação com a vivência espirita, começamos lembrando através dos escritos de Léon Denis que « O mundo invisível não se distingue do mundo visível, senão relativamente aos nossos sentidos. O invisível é a continuação, o prolongamento natural do visível. Em sua unidade, formam um todo inseparável ; mas é no invisível que importa procurar o mundo das causas, o foco de todas as actividades, de todas as forças sutilíssimas do Cosmos. »
E mais adiante : « A solidariedade que liga todos os seres não tem outro centro senão essa Unidade divina e universal. » E falando da Terra aonde estagiamos, diz : « Aspirações mais nobres encaminharão a Humanidade para a senda da renovação gradual e do problema moral. […] Tudo se liga, no domínio moral como na ordem material. »
E a alma, em suas infinitas peregrinações, adquire sempre novas qualidades, capacidades crescentes, que a tornarão apta a desempenhar uma tarefa cada vez mais elevada. » O espiritualismo, (isto é o espiritismo, dizemos nos) fez mais. Com esse conjunto de estudos e comprovações, com essas pesquisas empreendidas ha meio século, com todas as revelações que deles resultam, constituiu um novo ensino liberto de toda a forma simbólica ou obscura. Facilmente acessível, mesmo aos mais humildes, e que aos pensadores e eruditos descerra vastíssimas perspectivas dos elevados domínios do conhecimento, na concepção de um ideal superior.
A acção salutar do Espiritismo.
A acção salutar do Espiritismo não se exerce, com efeito, unicamente sobre os homens ; estende-se também aos habitantes do espaço. (Léon Denis, in Cristianismo e Espiritismo.)
« E nisso ha um dever imperioso, o dever de todo o ser superior para com seus irmãos retardatários, de um ou de outro mundo. E o dever do homem de bem, que o Espiritismo eleva à dignidade de educador e guia dos Espíritos ignorantes ou perversos, a ele enviados para serem instruídos, esclarecidos, melhorados. E ao mesmo tempo, o mais seguro meio de sanear fluídicamente a atmosfera da Terra, o ambiente em que se agita e vive a Humanidade. »
Não temos duvida alguma sôbre a necessária acção espirita em favor do esclarecimento, em todas as classes da sociedade. O dever de acção junto dos mais frágeis e necessitados, da sociedade, não nos deve impedir de alargarmos nossa acção educadora e exemplar no seio das classes mais abastadas e cultivadas da sociedade.
Até porque se estas ultimas beneficiam do acesso ao saber e à cultura, nem por isso deixam de ser portadoras de dificuldades arraigadas no egoísmo e na ganância. Dai que a acção educativa espirita se desenvolva afim de cooperar e auxiliar apressando a mudança necessária, fornecendo através da sua essência espiritual, as explicações e preparando essas almas, nossas irmãs, ao cultivo da solidariedade e da fraternidade.
O homem espirita não deve ser receoso, nem viver sentimento de exclusão, em relação a quem quer que seja. Sua convicção profunda é de amar seu semelhante et de olhar para todos convicto que aqui nos encontramos para nos auxiliarmos mutuamente. Que essa é a função da doutrina que abraçou, que também explica que o homem é imortal, seja ele pobre ou rico e que aqui, na Terra, se encontra de passagem, em marcha para retorno ao mundo espiritual de onde é oriundo.
Nada se perde, tudo se transforma.
Jamais serão vãos e inúteis todos os esforços, no sentido de aproximar os homens entre eles e torna-los convictos de que se devem auxilio mutuo e cooperar para melhorar a humanidade. Os mais cultivados deverão contribuir para fazerem ascender seus irmãos em humanidade, menos avisados, ao mais alto grau de conhecimento e cultura.
O Espiritismo é também cultura aproximando as almas entre elas, exprimindo-lhes e explicando a sua filiação a Deus. Assim contribuirá para a comunhão de princípios e de irmandade, das almas, enquanto fonte de luz e energia, capazes de elucidar as almas extraviadas e auxiliando os hesitantes e desconfiados à pratica do bem e à reabilitação.
Através do ensino espirita poderemos contribuir para refrear e estancar o antagonismo secular entre as diversas classes da sociedade, afim que não se reproduzam, indefinidamente, as cenas de possessão de que a historia humana esta repleta. A Doutrina dos Espíritos, tem nos seus fundamentos a essência capaz de inspirar aos homens atitudes acertadas de aproximação comum, de elevação moral e acrescento de espiritualização.
Todos estes esforços espiritas devem contaminar os homens inclinados para o bem a não duvidarem, nem hexitarem, na sua tendência para a cooperação construtiva e edificação de uma sociedade melhor e mais atractiva para a reencarnação dos Espíritos, porque a verdade seja dita, muitos irmãos desencarnados são hesitantes na volta ao contacto com seus ex-comparsas.
A melhoria da sociedade e da integração dos Homens num mundo mais propicio à pratica do bem, depende da nossa motivação e da acção que seremos capazes de empreender, em favor de todos. E obvio que nada perderemos em contribuir para a transformação do semelhante.
Muito podem ganhar os espiritas e outros mais.
Não é por acaso que a Doutrina dos Espíritos, exerce a função consoladora, no contacto com a dôr, o sofrimento e as feridas morais, sentidas pelos Homens, através dos seus esclarecimentos. E se seu aparecimento no mundo tem alguma significação é essa. Embora não seja única a prodigar consolo, é até aos dias actuais a única fonte de esclarecimento sobre os destinos humanos e a vida além-túmulo.
A harmonia e a felicidade so podem resultar da união com o nosso semelhante, da união dos corações e da sintonia dos pensamentos. Explicando a relação destes com os actos experimentados em vidas pretéritas por quem sofre, hoje.
Sabemos que a desunião é geradora de todos os males em que nos envolvemos e sofremos. E sinônimo de confusão, de perda de dinamismo no indivíduo e na sociedade. E desordem em acção ou para vir e dai todos os nossos esforços devem associar-se para a harmonização.
Nada ganhou a sociedade, em praticas esdrúxulas, no misticismo, com explicações impelindo-a para a ignorância. Esta situação teve a sua época histórica. Vivemos entre luzes e sombras, uma época assaz diferente, em que a ciência da actualidade, em seus ramos diversos e particularmente os que se ocupam da mente e lhe estudam os fenômenos.
Segue rumo a um mundo invisível que devera continuar a analisar e estudar e o futuro trará da sua parte um resumo altamente relevante da Vida e do Universo e dai a sua acção e a do Espiritismo para levarem as suas conclusões ao conhecimento dos povos e dos homens. Uma era de luz marcara a vida da Humanidade, encarnada e desencarnada.
Viveremos, então, um período luminoso, em que as almas se entrelaçarão e unirão por laços de amor e virtudes.
Allan Kardec dizia que : « as descobertas da ciência glorificam Deus em vez do rebaixar, elas não destroem que aquilo que os homens fundaram sôbre as ideias falsas que fazem de Deus ». O espiritismo não tem a pretensão de ser uma nova religião. Mas ele estima que « antes de acreditar, é preciso compreender ; e que para compreender deve usar a sua capacidade de julgamento ; é por isso que ele procura dar-se conta de tudo antes de admitir seja o que fôr, isto é, o porquê e o como de todas as coisas ; e também que os espiritas são finalmente mais céticos que muitos outros quanto à questão relativa aos fenômenos exteriores ao circulo das observações habituais ».
Desde o primeiro numero da Revista Espirita (1858), Allan Kardec escrevia : « A existência dos Espíritos e a intervenção destes no mundo corpóreo é atestado e demonstrado, não somente como um facto excepcional, mas como um principio geral, por santo Agostinho, são Jerônimo, são Crisóstomo, são Gregório e muitos outros Pais da Igreja. » Também sabemos que a ideia do perispírito (ou do corpo astral) também a encontramos em são Paulo e Orígenes.
Allan Kardec acrescentava : « Esta crença forma também a base na qual assentam todos os sistemas religiosos.» e « pela sua natureza, diz ele na Génese, a revelação espirita tem um duplo caracter : ela contém ao mesmo tempo a revelação divina e a revelação cientifica.
Da primeira, o facto de o seu aparecimento ser providencial e não resulta da iniciativa ou de um desenho premeditado do homem ; os pontos fundamentais da doutrina procedem dos ensinos dos espíritos encarregados por Deus para iluminarem os homens sôbre as coisas que ignoravam, que não podiam aprender por eles-próprios, e que devem conhecer hoje, porque estão maduros para os compreender.
Da segunda, que o ensino não é o privilégio « de um indivíduo, mas foi dado a todos pela mesma voz ; que os que o transmitem como os que o recebem não são sêres passivos, dispensados do trabalho de observação et de investigação ; que não devem calar o seu julgamento et o seu livre-arbítrio ; que o contrôle não lhes é proibido, antes recomendado ; e enfim, sabemos que a doutrina não foi ditada simplesmente, nem imposta à uma crença cega, mas sim, deduzida pelo trabalho do homem, da observação dos factos que os espíritos mostraram aos seus olhos, e das instruções que eles lhe transmetem, cujas o homem estuda, comenta, compara e das quais disseca as consequências e as aplicações. Numa palavra, o que caracteriza a revelação espirita, é que a sua fonte é divina, que a iniciativa pertence aos espíritos, e que a sua elaboração assenta no trabalho do homem. »
Exemplos dignificantes.
Desde que a luz espirita passou a iluminar as almas, não foram raras as personagens em todas as classes da sociedade e a todos os níveis da ciência, da arte e da cultura, que abraçaram o Espiritismo ou que nêle encontraram as explicações sensatas e racionais que procuravam.
Sem necessariamente, aderirem às suas instituições, muitas declararam-se concordando com seus princípios. E de algumas dentre elas que vamos passar a fazer referência, testemunhando assim de um dever militante.
Allan Kardec, seu verdadeiro nome, Léon Denizard Rival, professor, pedagogo, cientista, foi o coordenador das comunicações espiritas e quem deu sentido e existência a Doutrina dos Espíritos ou Espiritismo, enquanto Filosofia, Ciência e Moral. Fundador colectivo da primeira associação espirita : Sociedade Parisiense de Estudos Espiritas – SPES, le 1° avril 1858.
Amélie Gabrielle Boudet, professor, esposa de Allan Kardec, cooperou e elaborou juntamente com seu esposo as obras básicas da Doutrina Espirita editadas em nome de Allan Kardec. Aquando do decesso do marido assumiu a continuidade do movimento Espirita em França e no Mundo. Participou na fundação da primeira associação espirita SPES.
Bibliografia
Allan Kardec, « O Livro dos Espiritos », « A Génese ».
Léon Denis, « Cristianismo e Espiritismo ».
André Moreil, « Biografia de Allan Kardec ».