Apresentação e motivo
Por ser para nos, espiritas, um dos temas em que assentam as nossas propostas de transformação da pessoa, enquanto Espirito imortal, que para dar sentido e forma a essa tranformação necessita de reencarnar tantas vêzes quantas forem necessarias para alcançar e tornar efectiva essa progressão e atingir esse estado avançado de aperfeiçoamento, vamos adiantar mais algumas proposições neste artigo.
Embora Jesus estivesse encarnado entre os homens, em determinada ocasião, frente a Poncio Pilatos, disse : « Meu reino não é deste mundo » (1) Por esta sua acertiva confirma que a vida espiritual nada tem de éfêmero, o que é o caso da vida material que acaba e se extingue com a morte da vida corporal. Enquanto que a vida espiritual não so esta presente durante a existência material, mas continua para além da morte e se mantêm na eternidade.
Esta retenção e preservação, da vida extra-corporal, enquanto realidade da imortalidade do Espirito, vem para nos servir de base de apoio no sustento da uma fé inabalavel, porque desta forma encaramos o porvir como a continuidade da vida que ja é e que se espraia indestrutivel, no tempo e no espaço.
No tempo e no espaço, aqui neste planeta maravilhoso que nos acolhe para levarmos a cabo a nossa instrução, a nossa educação, habilitando-nos a vivermos uma vida futura fora dos contingentes da vida actual e nos acena as maravilhas da vida espiritual enquanto Espiritos mais elevados e treinados para a vigência futura a serviço unicamente do bem.
A Vida para além da sepultura
Se a vida futura se fara unicamente a serviço do bem, é porque as contingências ou uma grande parte delas que justificavam a nossa permanência neste planeta e a nossa reencarnação, se vão extinguindo, para dar lugar a um novo viver e a condições de existência, mais elevada, onde a pouco e pouco, passaremos de almas endividadas e auxiliadas para o estado de almas emancipadas e capazes de cooperar unicamente auxiliando outras almas irmãs.
E Allan Kardec que afirma (2) : «Para quele que, por pensamento, se coloca na vida espiritual, que é indefinida, a vida corporal é simples passagem, curta estação numa região ingrata. As vicissitudes e tribulações da vida são meros incidentes que sofre com paciência, porque as sabe de curta duração e que devam ser seguidas de um estado mais feliz. A morte nada tem de horrivel ; ja não é a porta do nada, mas a da liberdade, que abre ao desterrado a entrada na morada da felicidade e da paz. »
E sem duvida esta certeza, da vida imortal, que coloca o individuo em situação temporaria, e o leva a compreender que os pezares da vida actual, não tem assim tanta significação, e são passageiros. Desta visão devera resultar um paz interior, a calma para além do vendaval que por vêzes nos acarreta a vida. Assim a vida deixa de ser dôr e sofrimento, para se tornar um estado passageiro, no qual a amargura vai declinando e sendo substituida pela doçura.
São estes horizontes que nos traz o espiritismo, enquanto ensino e filosofia de vida. Em lugar da visão estreita tradicional que temos da vida, passamos a viver com uma expansão vivencial largamente mais ampla e profunda da existência humana. O porvir acena-nos com um largo sorriso, em vez da visão estreita e cadavérica da vida, circunscrita, esta, a existência corporal e unica, sem perspectiva de futuro.
Numa das suas instruções, (3) o Espirito que assina « Uma rainha da França », declara : « Quem melhor do que eu, pode compreender a verdade destas palavras de Nosso Senhor : « Meu reino não é deste mundo » ? E para não deixar duvidas quanto à sua visão passada da vida e do mundo prossegue : «O orgulho me perdeu na terra. Quem compreenderia o nada dos reinos da terra, se eu o não compreendi ? Que me trouxe meu reino terrestre ? Nada, absolutamente nada ; e para que a lição fôsse mais terrivel, nem sequer o conservei até o tùmulo.
Rainha era entre os homens, rainha supunha entrar no reino dos céus. Que ilusão ! Que humilhação quando, em vez de ser recebida ali como soberana, vi acima de mim, e muito mais alto, homens que supunha muito insignificantes e que desprezava porque não eram de sangue azul ! Oh !…»
Aqui temos um exemplo deste Espirito que tendo sido uma vez grande na terra, fôra rainha, se sentia e via agora pequena e sem poder, nada que lhe pudesse valer e valorisar. As honras e grandezas, fastos da vida terrena, de nada lhe serviram uma vez no mundo espiritual. Por isso nos lembra que para preparar um lugar no reino da vida espiritual « são precisas, a abnegação, a humildade, a caridade em toda a sua pratica celeste e a benevolência para com todos ».
A vivência terrestre e sua utilidade
Tanto valor damos a alguns bens terrestres que vamos amealhando enquanto por aqui nos encontramos, mas cujous, pequenos ou grandes, de nada nos servirão, uma vez nos encontremos de volta à vida real, aonde o Espirito, depois do seu treino terrestre, cresce e vivifica. Aonde podera recolher os correctivos santificantes, auxiliado pelos intervenientes superiores da vida espiritual, com o fim de nos despertarem para novos vôos e menos ociosas existências.
Este é o nosso destino, longo caminho, durante o qual nos vamos treinando, em inumeras lições, adaptadas às necessidades que nos dizem respeito, tendo sempre em vista o devenir de cada um de nos. Entre ajustes e adaptações, vamos sempre avançando e fixando intimamente novos conceitos e mais dignas propostas, resultando da experiência e da elevação que fômos atingindo.
Se temos um conselho a dar aos nossos leitores, é apenas este : vale a pena ser comedido, viver sem os elixires que a vida terrestre procura, servir conscienciosamente, e amar o proximo. Restabelecer a nossa relação intima e profunda com a Fonte Suprema da vida. Experimentar as alegres emoções da paz, do perdão quando necessario, e satisfazer a elevação moral, trabalhar afincadamente pela nossa propria habilitação e emancipação moral e espiritual.
Nada mais sera tão util e nos trara as benesses com que sonhamos na vida. Assim sendo desfrutaremos de uma vida mais comedida e sem tantas ansiedades, nem tantos dissabores. Gostar de si-proprio, sentir-se bem consigo mesmo, é a base fundamental para poder gostar e amar os outros. Até breve.
Bibliografia
(1) – Allan Kardec « O Evangelho segundo o espiritismo », cap. 1, Realeza de Jesus, alinea 4.
(2) – Allan Kardec « O Evangelho segundo o espiritismo », cap. 1, Realeza de Jesus, alinea 5.
(3) – Allan Kardec « O Evangelho segundo o espiritismo », cap. 1, Uma realeza terrestre, alinea 8.