Vivemos num mundo onde a misericordia se encontra apagada, pelo menos em determinados estratos do poder e das instituições.
Quando se fala que o individuo devera ter misericordia, estamos a falar um numero de coisas bastante largo e isto significa que as administrações, e não so o individuo, deveriam ter por bandeira esta virtude e carrega-la sempre os cidadãos deveriam ser escutados nas suas diligências, nas suas dificuldades, e na actualidade estas não são poucas.
A misericordia deveria estar no centro da nossa maneira de estar e de sermos uns para os outros, até porque aquando de um conflito entre pessoas se não houver misericordia não podera haver entendimento, nem poderemos tão pouco estabelecer regras de vida colectiva e harmoniosa.
A sociedade na hora presente carrega inumeros sofrimentos, dificuldades e insuficiências que tendem a crescer não so no campo material, mas entendamo-nos bem, também no campo moral. Todos os dias os meios de informação trazem à tela um cem numero de casos e situações denunciadoras desta falta de virtude societal.
Eu que sou cidadão dado à paz e ao entendimento fraterno entre pessoas e entre os povos, de culturas e tradições diversas e variadas passei leitura pela obra «O Evangelho Segundo o Espiritismo » de Allan Kardec e anotei no capitulo X – Bem aventurados os misericordiosos, uma série de referências ao tema que nos propômos tratar.
Perdoai, para que Deus vos perdoe, vem a proposito da atitude que tanto o individuo quanto a sociedade deveriam vivenciar para vencer os despropositos sociais e inscrever na educação o trato pela misericordia. No 1° itém pude ler : «Bem-aventurados os misericordiosos ; porque êles alcançarão misericordia.»( Mateus, v : 7)
Nesta leitura que nos parece ser de ordem individual, na realidade encontramo-nos frente a um autêntico compêndio de sociabilidade na qual deveriamos beber a nossa educação e entender que a todos os niveis escolares e universitarios deveriamos tratar desta maneira de ser e de estar.
Até porque a todos os niveis do ensino o que nos preocupa, na actualidade, é formar e qualificar nas tecnologias, tanto mais que sômos guiados para sermos produtivos de coisas e frutos nos campos da materialidade, em detrimento da virtude. Desde o primario, ao universitario, e em todas as frentes, vivemos em concorrência absurda.
Continuando a estender a nossa leitura deparamo-nos com comentarios do insigne Allan Kardec e ai bebi as suas reflexões proprias a despertarem algo que tem a ver com o perdão e a misericordia enquanto conquista dos individuos, sem a qual toda a acquisição é ilusão e de nada serve o individuo nem a sociedade.
Nem mais, nem menos, segundo o mestre francês, «a misericordia é o complemento da doçura, porque os que não são misericordiosos não costumam ser benignos e pacificos. A misericordia consiste no esquecimento e no perdão das ofensas. O odio e o rancôr denotam uma alma sem elevação e sem grandeza, porque o esquecimento das ofensas é proprio das almas elevadas, que estão fora do alcance do mal que se lhes queira fazer. Uma esta sempre ansiosa, é de uma sombria susceptibilidade e cheia de fel ; a outra esta serena, cheia de mansuetude e de caridade.
Infeliz do que diz : não derdoarei nunca ; porque se não for condenado pelos homens, certamente sê-lo-à por Deus. Com que direito reclamara o pderdão de suas faltas, se êle proprio não pderdoa as alheias ? Jesus nos ensina que a misericordia não deve ter limites, quando diz que se deve perdoar ao irmão não sete vêzes, mas setenta vêzes sete vêzes.
Ha, entretanto, dois modos diversos de perdoat. O primeiro é grande e nobre, verdadeiramente generoso, sem segunda intenção ; maneja delicadamente o amor proprio, a susceptibilidade do adversario, mesmo quando este tem toda a culpa. O segundo é quando o ofendido ou o que como tal se julga, impõe ao outro condições humilhantes e faz sentir o pêso de um perdão que irrita, em vez de acalmar ; se estende a mão não é por benevolência, mas por ostentação, a fim de poder dizer a todos : olhai como sou generoso ! Em tais circunstâncias é impossivel que a reconciliação seja sincera de uma e de outra parte. Não ! Isto não é generosidade ; é uma das multiplas formas de satisfação do orgulho. Em toda contenda, o que se mostra mais conciliador, que demonstra mais desinterêsse, mais caridade e mais verdadeira grandeza de alma, conquistara sempre as simpatias das criaturas imparciais.»
São varias paginas que se seguem ao longo da leitura de tão elevados ensinos, mas quanto aqui anoto fala alto e trata acertadamente as falhas em que nos educamos e dai as condições em que funciona a sociedade, das prioridades e das intenções secretadas por aquêles que nos dirigem, fundamentalmente em seu proveito proprio.
Uma vez mais penso que entramos numa época em que muitas das nossas construções seguem o desmoronamento e apressam outras necessidades, se entendemos construir com futuro e abnegadamente preparar as mentes educando os individuos para as novas realidades e as exigências da moral e da inteligência.
Artigo de André (médium) para Epadis, em 16.01.2022.