« Queridos irmãos,
Que a Paz do Senhor esteja com todos e que ela vos inspire as ações do bem que de vós se esperam e para as quais todos estão preparados e comprometidos.
É muito frequente os irmãos encarnados confundirem conceitos que se transformam em ações nem sempre elevadas ao seu expoente máximo. Um desses exemplos é claramente o conceito de caridade. Quando se fala em caridade, cada um imagina coisas diferentes e formas de a exercer tão variadas quantos os que a pretendem exercer. Já é um aspeto muito positivo e favorável o simples facto de a querer exercer e é louvável qualquer gesto e ação que pretenda auxiliar irmãos. No entanto, essa caridade reflete-se, na maior parte das vezes, em impulsos de generosidade, material ou moral, que visam resolver uma determinada situação, num período de tempo balizado. Esses impulsos generosos são louváveis sempre que tiverem por único objetivo a vontade sincera de ajudar quem sofre ou quem necessita de amparo. Já não será louvável toda e qualquer ação, impulsiva ou não, que tenha por objetivo a projeção pessoal e social ou o enriquecimento material e a exaltação do ego, da vaidade e do orgulho.
Todos nós conhecemos situações destas em que se põem em marcha campanhas de solidariedade que duram o tempo de uma lua e que servem, em grande parte, para publicitar a vida de algum famoso ou o nome de alguma empresa. Todos nós conhecemos as engrenagens da máquina de marketing e os efeitos que essas ações generosas publicitadas têm a favor de quem as pratica e promove. Existem inclusive formas de se conhecerem as ações generosas de quem, aparentemente, quer manter o anonimato, através de estratégias publicitárias orquestradas ao pormenor para deixar escapar para a opinião pública pormenores que levarão à formação de uma imagem mental de famosos e empresas ou por vezes de cidadãos comuns no meio onde vivem.
Mas, a estes impulsos generosos opõe-se a benevolência constante. Essa benevolência que é parte integrante de alguns irmãos, que lhes é natural e espontânea; essa benevolência que é parte do seu ADN, que é tão constante como a sua respiração; estamos a falar da benevolência que se traduz em ações diárias, simples e de perfil baixo (low profile). Não são ações deslumbrantes, não são flashes que encandeiam; são ações discretas, são luzes difusas que não se apagam quando acabam as pilhas, se gasta a bateria ou se apagam os focos; são
luzes que continuam a brilhar de forma constante e tranquila porque são alimentadas pela fé, que é fonte inesgotável de energia. As luzes da benevolência não são as da ribalta, mas são as dos bastidores; não são as que duram um tempo limitado, mas são as que duram o tempo de várias existências físicas e o tempo infinito do espírito.
Em Espiritismo, assistimos frequentemente à chegada de irmãos movidos por impulsos generosos que se deslumbram com os benefícios imediatos desta doutrina consoladora e que se imaginam capazes de mover céu e terra. Esses irmãos usualmente duram pouco tempo ao serviço dos seus irmãos encarnados e desencarnados, pois passado o momento de encantamento inicial, chegam as responsabilidades, e a constância que nem todos possuem.
Em Espiritismo, os impulsos generosos são agradecidos quando servem propósitos elevados, mas o que é pedido é a benevolência constante, é a transformação real, é a reforma íntima que alicerça as ações certas, é o trabalho discreto, é a dedicação tranquila, é a humildade inspiradora, é a generosidade serena, é a caridade ativa, é a fé inabalável que orienta os passos, é o Amor incondicional recebido e doado, é a ajuda oferecida sem pompa, é a fraternidade que não distingue merecimentos porque todos, sem exceção, somos filhos de Deus e, como tal, merecedores de assistência, de encorajamento, de oração, de esperança, de ensinamento e de perdão.
Irmãos, amai-vos de forma constante, tranquila e serena e amparai-vos como irmãos que sois em fé e em caridade.
Com paz e harmonia,
F.P »
Venade, 30 de julho de 2019.
BR, pelo Espírito F. P.