Introdução.
Não é raro ouvirmos pais dizerem que advém cada vez mais complexo e difícil criar e educar filhos. O fim do século XX e o início do século XXI estão marcados como tempos de grande avanço técnico e tecnológico. Ora este novo milênio está, defacto, marcado por profundas transformações nos comportamentos e nas relações afetivas entre membros da mesma família, particularmente as relações entre pais e filhos, que estão sendo revolucionadas e passam por tempo de crise aonde o respeito e o amor iniciam uma autêntica viragem.
Digamos, que do tratamento educacional e na hierarquia das relações entre pais e filhos, vindo do longo período da idade-média certos traços educativos se mantiveram até às portas do século XX que na questão relativa aos laços entre membros da família, como noutros, foi um tempo de grandes mudanças e inovações.
Entre as grandes vagas migratórias, as guerras, a acentuação da mundialização das actividades culturais, artísticas e tecnológicas, de trocas acentuadas dos mais diversos produtos agrícolas e industriais, encontra-se a causa de relacionamentos diversificados e enriquecidos, de fusão educacional e dai uma transformação profunda das características educacionais.
No decorrer do século XX desenvolveu-se a actividade turística massiva, entre países e continentes, dando ensejo a contactos multi-culturais e de tradições que contribuíram para que, pelo menos, as populações mais favorecidas tenham aberto mais amplamente as suas capacidades educacionais e tenham mudado suas regras e maneiras educativas. E claro que nem todas as acquisições multi-culturais tiveram impacto positivo, nesta mudança educativa e de relacionamento entre pais e filhos.
Durante o século XX deram-se diversas alterações, quer positivas umas, quer negativas outras. Observamos um desprendimento das rédeas paternas, sem no entanto se transformar a despersonalização dos filhos frente à autoridade, sem réplica, dos pais, particularmente do homem. Conjuntamente também assistimos, numa primeira fase ao mantimento de uma certa dose de despersonalização da mulher, relegada ao lugar de cidadã de segunda ordem, e seguidamente vimos, lentamente mas decididamente esta ir assumindo lugar de destaque, na família e na sociedade, particularmente pela sua capacitação de produtora de bens materiais como o homem.
E embora nos encontremos na actualidade num processo complexo, assaz confuso, de alterações e mudanças, em que as regras educativas anteriores se encontram decadentes, estamos também ensaiando os primeiros passos para um período de reconstrução de nova visão e convivência relacional entre os diversos membros da família. Este encaminhamento tomou maior vulto nas ultimas décadas, e tudo nos leva a crer que não parara por aqui.
A família e a sociedade do futuro.
Do antigo emaranhado de confusões, penetramos num processo de mudança natural, embora com visibilidade limitada, e dai uma certa dificuldade para uma analise substancial, via o futuro, mas o amadurecimento dos últimos cem anos e as transformações que se produziram, permitem-nos adiantar que nas próximas décadas algo de decisivo vira confirmar o progresso, lentamente esquissado e alcançado.
Da mesma maneira que a família de ontem ja não funciona dentro dos mesmos parâmetros que se arrastaram desde a idade-média, também a do futuro, abandonara as suas regras funcionais actuais, para caminhar via um período áureo em que havera mais igualdade consentida e construída na dignidade e respeito mutuo. Perspectivando-se em bases mais fecundas, da solidariedade, da fraternidade, crescentes, e em laços de amor eterno.
Na medida em que através da sua acção o Homem foi transformando o mundo à sua volta, também neste mesmo impulso se foi transformando e progredindo ele-próprio. As leis do progresso, incluem as coisas e os sêres, e manifestam-se dinamicamente, segundo Allan Kardec, « sem cesso ». (1)
Embora não sejam absolutamente paralelos e embora o progresso material seja o primeiro a manifestar-se na dinâmica do Homem, por sua vêz aquele traz com êle o ulterior processo da mudança moral e espiritual, que de maneira nenhuma, em nosso ver, e levando em conta a lei defendida por Allan Kardec, poderiam quedar-se e estratificar-se na involução. Fazendo do Homem o artifice da sua própria transformação, a Lei Superior, permite-lhe uma alçada penetrante e cada vez mais acentuada na obra da divina cooperação.
E esta sólida crença, que nos mostra os marcos cada vez mais latos, da mudança relacional no seio da família e da sociedade. Um investimento importante sera necessário, em cada gesto e em cada passo, realizados. Mas, sempre assim foi, e, em conformidade com as épocas e as dinâmicas que lhes são próprias, e concordando com Allan Kardec, jamais deixaremos de transformar as nossas relações, em todos os quadrantes da vida humana.
As relações afetivas dos membros de uma família, embora com bastantes lacunas, jamais cessaram de abundar no sentido da sua transformação e aprofundamento. Os indivíduos, relegaram as suas carapaças para o caixote do lixo da historia e elegeram novos modos de relação bastante mais conformes ao progresso que foram realizando e às necessidades que se fizeram sentir na sua intimidade, individual e colectiva.
O quadro actual, ja ultrapassou a união dos sêres humanos, no aquém das fronteiras físicas dos países dos quais procedem, para se metamorfosearem na universalidade. Daí o abrandamento relacional da família humana a níveis mais condignos e concomitantes com as necessidades sentidas e os apelos para melhor conhecimento do outro, guardando o que lhe parece, em determinado instante, essencial e condizente com a sobrevivência da prole.
E se é certo que a paz se encontra na solidão íntima do indivíduo, esta paz até agora individual, necessita de um campo, algo mais basto, para encontrar com quem ser vivida e repartida, o que ensinara e cultivara o homem do porvir para viver colectivamente esta mesma paz, e daí para o amor repartido, apenas haverá um passo a fazer. Pais e filhos conhecerão a intimidade desta força inigualável, do amor, que lhes proporcionara novas formas de vida, com relações altamente mais ricas e enobrecedoras.
Sendo este o futuro que nos espera, já que a Lei do Progresso se manifesta sem parar, dia virá em que os Homens viverão em paz, entre-êles, em uníssono com a natureza envolvente e os sêres que a compõem, e daí encontrarão a alegria e a felicidade sôbre a Terra. Certamente, transportando esta forma de ser e de estar, cada vez mais além no Universo ao qual pertencemos.
Então, elevando-nos a tal nível de relacionamento, só o AMOR nos alimentara e animara todos os nossos pensamentos e irrigara todas as nossas acções.
Bibliografia
(1) – Allan Kardec, « O Livro dos Espíritos », capitulo VIII – Lei do Progresso – pag. 258. Edição O Pensamento Lda.