Factos da história.

Percorrendo e analisando a história do passado, (1) acabamos por saber que a repressão contra pessoas portadoras de mediunidade não foi rara, mas, antes, assídua e particularmente misógina. Segundo certas fontes citadas pelo professor do Quebeque André Champagne, em declarações feitas ao jornalista Jacques Beauchamp, nada menos de 100.000 pessoas, especificamente mulheres, foram acusadas arbitrariamente de bruxaria, entre 1450 e 1750.

Dai, foram incriminadas e torturadas, seguindo para o cadafalso ou para as fogueiras. Victimas de uma época de dominação e de um delírio anti-feminino, por parte de religiosos altamente potentes e impregnados de uma paranoia generalizada. Tal foi, no entanto, o destino, em muitos casos, de simples mulheres sem defesa.

 

Quem eram essas bruxas ?

Naqueles tempos as bruxas eram em geral, mulheres rebeldes e à margem da sociedade. Com idades para cima dos cinquenta anos, vivendo sos, não frequentavam a igreja e trajavam de forma inabitual. Bastava uma bisbilhotice para serem victimas de acusação. André Champagne esclarece : « A mulher acaba por ser declarada bruxa porque assim o entendeu a denunciação. O que não tem nenhum fundamento, mas é so boato e rumores.

 

A tirania da religião.

A volta dos anos de 1139, a igreja católica proibiu o casamento dos padres. Devagar, mas insinuosamente, entendem-se falatórios misóginos, acusando as mulheres de incitar os homens ao vicio. A exponencial caça às bruxas é um fenômeno que sobressai do que se passa na cabeça dos homens da igreja e dos monges que dessa maneira tentam dar azo aos seus recalques e fantasmas sexuais.

 

Os processos terríveis.

Os caçadores de bruxas utilizam um manual religioso, martelo das bruxas, para detectarem comportamentos suspeitos na mulher e dai as confissões. Para incitar e obter tais confissões, era utilizada assiduamente a tortura de aperto, técnica com a qual se apertavam os braços ou as pernas, entre tornos de madeira nos quais se encravam cunhas de madeira para aumentar o sofrimento. Diz André Champagne : « Também é pratica corrente queimar as acusadas com tochas ou ainda de lhes verter, sôbre o corpo nu, cira quente, e mesmo chumbo em fusão ou alcool inflamado. Outros métodos ainda piores tinham curso ! »

 

Mas enfim, quem eram essas bruxas e esses bruxos ?

« Eram médiums, ou seja pessoas dotadas da faculdade mediúnica, e não ignoramos que a mediunidade é um atributo do psiquismo existente em todas as criaturas. Os médiuns existiram em todos os tempos. Na mais longínqua antiguidade, eram denominados adivinhos ou pitonisas, que frequentemente pagavam com a sua vida o conhecimento inabitual que lhes era peculiar. »

Em todos os tempos desde o aparecimento do espiritismo e da mediunidade, segundo a ética espirita, os antagonistas da doutrina espirita, jamais deixaram de se servir deste ou daquele exemplo rotulado de simulacro, para dai negarem todo o edifício cientifico da doutrina espirita e fazerem pairar o descrédito.

 

Resposta de Allan Kardec.

 

Na « Revista Espirita » de setembro de 1861, Allan Kardec, relativamente a certas provas tendenciosas e ignorantes do fenômeno espirita, declara « A Academia das ciências recebeu a missão de atribuir um prémio de 2,500 fr. a quem uma vez magnetizado leria com os olhos vendados. Todos os sonâmbulos se submeteram a este exercício nos salões e sobre os beliches, lendo livros fechados e decifrando uma carta assentados em cima dela, dobrada e fechada sôbre o ventre, mas na frente da Academia nada pude ser lido, não desta forma atribuído o prémio.

Este experimento prova uma vez mais, a ignorância dos nossos antagonistas, a absoluta ignorância dos princípios em que repousam os fenômenos das manifestações espiritas. Vivem com a idéia fixa que os fenômenos devem obedecer às suas vontades e produzirem-se com uma precisão mecânica. Mas esquecem-se completamente, ou falando por outras palavras, desconhecem que a causa dos fenômenos é moral, et que as inteligências seus agents primeiros não se submetem ao capricho de quem quer que seja, nem dos médiums nem de outras pessoas.

Os Espíritos agem se tal lhes agrada, et frente a quem lhes é agradável, até porque é quando menos se espera que a manifestação se da com mais energia, mas quando é solicitada não se produz. Os Espíritos tem condições de ser que desconhecemos ; tudo o que se situa fora da matéria não poser submetido ao crisol da matéria.

Consiste em perder-se que de julga-los do nosso ponto de vista. Se julgam ser útil revelarem-se por sinais particulares, fazem-no ; mas nunca à nossa vontade, nem para satisfazer uma vã curiosidade. Também sera preciso levar em conta uma causa muito conhecida que afasta os Espíritos : é a sua antipatia para com certas pessoas, principalmente aquelas que por razões largamente conhecidas querem pôr a sua perspicacidade à prova.

Quando uma coisa existe, diz-se, também eles devem conhecê-la ; ora, é justamente porque essa coisa é conhecida por vos, ou que tendes os meios de a averiguar vos-mesmos, que eles não se esforçam a responder ; esta suspeição irrita-os e nada se obtém satisfatoriamente, antes, isso afasta os Espíritos sérios que so falam voluntariamente com pessoas que se lhes dirigem com confiança e sem suspeitas. Não temos nos todos os dias o exemplo à nossa frente ? Homens superiores, conscientes do seu valor, não perderiam tempo com perguntas imbecis, tendendo a submetê-los a um exame como se se tratasse de alunos ? Que diriam eles se lhes disséssemos : Mas se não respondem, é porque nada sabem ? Então virariam-vos as costas : E assim que se comportam os Espíritos.

Sendo assim direis, mas que meios temos nos de nos convencermos ? No proprio interêsse da doutrina dos Espíritos, não deveriam desejar angariar prosélitos ? Responderemos que é ser orgulhoso em pensar ser indispensável ao sucesso de uma causa ; os Espíritos não gostam dos orgulhosos. So convencem aqueles que assim o entendem ; mas quanto aquêles que julga ser dotados de uma importância pessoal, provam o pouco caso que fazem por eles em não os escutando.

Apreciem as suas respostas a duas perguntas feitas sôbre esse assunto : 24 – Pode-se pedir aos Espíritos sinais materiais enquanto prova da sua existência e da sua potência ? Resp. « Pode-se sem duvida provocar certas manifestações, mas toda a gente não esta apta para isso, e assiduamente o que pedis não o obtéis ; não obedecem ao capricho dos homens. » Mas quando uma pessoa pede sinais para se convence, não seria útil satisfazê-la, o que se traduziria por um adepto a mais ? Resp. « Os Espíritos fazem o que eles entendem e o que lhes é permitido. Falando-vos e respondendo às vossas perguntas, marcam a sua presença : Isso deveria ser suficiente ao homem sério que procura a verdade pela palavra. »

Os escribas e os fariseus disseram a Jesus : « Mestre, queríamos que nos fizesse um qualquer prodígio. Jesus respondeu-lhes : « Esta raça ma e adultera pede um prodígio, e nada mais lhe sera dado que o que foi dado a Jonas » (São Mateus). Acrescentaremos que é bastante mal conhecer a natureza e a causa das manifestações em acreditardes convencê-los com um prémio qualquer.

 Os Espíritos desprezam a cupidez tanto quanto o orgulho e o egoísmo. Sendo esta a condição para se absterem de manifestar. Saibam que, obterão cem vêzes mais de um médium desinteressado que daquêle que se move pelo ganho, e que um bilhão não realizaria o que não deva ser realizado. Se nos admiramos de uma coisa, é que haja médiums capazes de se submeterem a uma prova tendo por repto uma soma de dinheiro. (2)

 


 

Bibliografia

 

(1) Artigo publicado na Revista Espirita de setembro de 1861, com o titulo « Caça às bruxas : o lado sombrio do Renascimento.»

(2) Extratos da resposta dada por Allan Kardec no mesmo numero da Revista Espirita de 21 de setembro de 1861.