Sôbre vampirismo espiritual, fala o Espírito, André Luiz, em « Evolução em Dois Mundos » (1) nestes termos : « – Comentando as ocorrências da obsessão e do vampirismo no veículo fisio-psicossomático, é importante lembrar os fenômenos do parasitismo nos reinos inferiores da Natureza. »
Sem nos reportarmos às simbioses fisiológicas, (2) em que microrganismos se albergam no trato intestinal dos seus hospedadores, apropriando-se-lhes dos sucos nutritivos, mas gerando substâncias úteis à existência de anfitriões, encontraremos a associação parasitária, no domínio dos animais, à maneira de uma sociedade, na qual uma das partes, quase sempre após insinuar-se com astúcia, criou prejuízo para a outra, que passa, em seguida, à condição de vítima.
Em semelhante desequilíbrio, as vítimas se acomodam, por tempo indeterminado, à pressão externa dos verdugos; contudo, em outras eventualidades, sofrem-lhes a intromissão directa na intimidade dos próprios tecidos, em ocupação impertinente que, às vêzes, se degenera em conflito destruidor e, na maioria dos casos, se transforma num acordo de tolerância.
Por necessidade de adaptação, perdurando até à morte dos hospedeiros espoliados, chegando meso a originar os remanescentes das agregações imensamente demoradas no tempo, interferindo nos princípios da hereditariedade, como raízes do conquistador, a se entranharem nas células que lhes padecem a invasão nos componentes protoplasmáticos, (3) para além da geração em que o consórcio parasitário começa.
Em razão disso, apreciando a situação dos parasitas, perante os hospedadores, temo-los por ectoparasitas, quando limitam a própria acção às zonas de superfície, e endoparasitas, quando se alojam nas reentrâncias do corpo a que se impõem. Não sera lícito esquecer, porém, que toda a simbiose exploradora de longo curso, principalmente a que se verifica no campo interno, resulta de adaptação progressiva entre o hospedador e o parasita, os quais, não obstante reagindo um sobre o outro, lentamente concordam na sociedade em que persistem, sem que o hospedador considere os riscos e perdas a que se expõe, comprometendo não apenas a própria vida, mas a existência da própria espécie.
Sôbre as transformações dos parasitas, temos assim, na larga escala dos acontecimentos dessa ordem, os parasitas temporários, quais as sanguessugas e quase todos os insectos hematófagos, (4) que apenas transitoriamente visitam os hospedadores; os ocasionais ou os pseudoparasitas, que sistematicamente não são parasitas, mas que vampirizam outros animais, quando as suas situações do ambiente a isso os conduzam; os permanentes de desenvolvimento directo, que dispõem de um hospedador exclusivo e a cuja existência se encontram ajustados por laços indissolúveis, quase todos relacionáveis entre os endoparasitas; os parasitas chamados heteroxênicos, que se fazem adultos, em ciclo biológico determinado, contando com um ou mais hospedeiros intermediários, quando se encontram em período larval, para atingirem a forma completa no hospedeiro definitivo; os hiperparasitas, que são parasitas de outros parasitas.
Conclui-se que o parasitismo, entre os animais, não decorre de uma condição natural, mas sim de uma autêntica adaptação deles a modo particular de comportamento, é justo admitir se inclinem para novos característicos na espécie. Assim é que o parasita, no regime de adaptação a que se entrega, experimenta mutações de vulto a se lhe exprimirem na forma, por reducções on acentuações orgânicas, compreendendo-se, desse modo, que o desaparecimento de certos órgãos de locomoção em parasitas fixados e a consequente formação de órgãos necessários à estabilidade em que se harmonizam devem ser analisados como fenômenos inerentes à simbiose injuriante, notando-se nesses seres a facilidade de fecundação e a resistência vital.
Com a extrema capacidade de encistamento, (5) pela qual se segregam recursos protectores e se isolam dos factores adversos de meio, como o frio ou o calor, tolerando vastos períodos de abstenção de qualquer alimento, a exemplo do que ocorre com o percevejo do leito, que consegue viver, mais de seis meses consecutivos, em completo jejum.
Continuando a examinar as alterações nos parasitas em actividade, assinalamos muitos platelmintos (6) e anelídeos (7) que, em virtude do parasitismo, perderam os apêndices locomotores, substituindo-os por ventosas ou guanchos. Daí, identificarmos a degeneração do aparelho digestivo em vários endoparasitas (8) do campo intestinal e por vezes, a total extinção desse aparelho, como acontece a muitos cestoides (9) e acantocéfalos (10) que, vivendo de maneira invariável, na corrente abundante de sucos nutritivos já elaborados no intestino do seus hospedadores, convertem os órgãos bucais em órgãos de fixação, prescindindo de sistema intestinal próprio, de vez que passam a realizar a nutrição respectiva por osmose, utilizando toda a superfície do seu corpo.
De outras vêzes, quando o parasita costuma ingerir grande massa de sangue, demonstra desenvolvimento anormal do intestino médio, que se transforma em bolsa volumosa a funcionar por depósito de reserva, onde a assimilação se opera, vagarosa, para que esses animais, como sejam as sanguessugas e os mosquitos, se sobreponham a longos jejuns eventuais.
Bibliografia
(1) A obra « Evolução em Dois Mundos » é uma obra impressa em 1958 e ditada pelo Espírito, André Luiz, aos médiuns brasileiros Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, que poderíamos classificar na ordem das obras médico-científicas, de origem espiritual.
(2) 1- Simbiose: é a associação íntima e duradoira entre dois organismos des espécies diferentes, qualificados de simbiotes, sendo o maior nomeado hospedeiro. 2 – Fisiológico: faz referência ao corpo, ao físico, humano.
(3) Relativo ao protoplasma, protoplasmáticos são células ou sêres vivos cujo interior é formado pelos elementos e substâncias químicas da natureza e que constituem os sêres vivos. Água 75% – 80%, proteínas 10 a 15%, e aminoácidos de carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio, pelo essencial.
(4) Insectos hematófagos são insectos que se alimentam de sangue.
(5) Incistamento ou inquistamento é o acto de formação de uma membrana em que se alojam, cisto ou quisto, os protozoários ou animais microscópicos.
(6) Platelmintos, são vermes que surgiram no planeta ha provavelmente cerca de 600 milhões de anos. Estes animais têm corpo geralmente achatado e compreendem 15 mil espécies que vivem sobretudo nos ambientes aquáticos, oceanos, rios, lagos, e em ambientes terrestres húmidos.
(7) Anelídeos, são animais invertebrados, com aspecto vermiforme que possuem o corpo segmentado em anéis. O solo está repleto desanimais.
(8) Endoparasitas são animais parasitas que vivem no interior do corpo do hospedeiro, a exemplo de muitas bactérias, tênias e nemaltelmintos. Invadem o corpo hospedeiro para se alimentarem ou procriar.
(9) Cestoides, são animais endoparasitas.
(10) Acantocéfalos é um parasita, que se encontra em muitas espécies de peixes, anfíbios, pássaros e mamíferos. Fixam-se geralmente no intestino do hospedeiro.