… e o Espírito falou – II.

Transformações dos hospedeiros.

 

Todavia, se os parasitas podem acusar expressivas transformações, à face do novo regime de existência a que se  afeiçoam, os resultados de tais associações sobre os hospedeiro são mais profundos, porque os assaltantes, depois de instalados, se multiplicam, ameaçadores, estabelecendo espoliações sobre as províncias orgânicas da vítima, sugando-lhe a vitalidade, traumatizando-lhe os tecidos, provocando lesões parciais ou totais ou estendendo acções tóxicas, como a exaltação febril nas infecções, com que, algumas vêzes, lhe apressam a morte.

Nessa movimentação perniciosa ou letal, conseguem irritar as células ou destruí-las, obstruir cavidades, seja nos intestinos ou nos vasos, embaraçar funções e obliterar glândulas importantes, quais as glândulas genitais, que podem levar até à castração, embora os recursos defensivos do hospedeiro sejam postos em evidência, criando exércitos celulares de combate às infestações, expulsando os invasores por via comum, ou neutralizando-lhes a penetração, pelas membranas fibrosas que os envolvem, incitando-os a princípio, para aniquilá-los, depois, em pequeninos invólucros calcificados, no interior dos tecidos.

E lembrando os efeitos de certos parasitas heteroxênicos, que se desenvolvem no hospedeiro intermediário para alcançar a posição adulta no hospedeiro definitivo, bastara menção especial aos tripanossomas (1) que, em espécies várias, se multiplicam nos tecidos e líquidos orgânicos, traçando aflitivos problemas da parasitologia humana, em complicadas operações de transmissão, evolução e instalação no quadro fisiológico de suas vítimas.

Vale citar, dentre eles, o « Trypanossoma cruzi » que se hospeda, habitualmente, no intestino médio de um « triatoma » (2) ou de outro reduviideo (3), onde apresenta formas arredondadas em divisão para adquirir novamente a forma de tripanossoma no intestino posterior do hemiptero (4) que, vivendo à custa de sangue, obtido por picada, vem a transmiti-lo pelas fezes, ao organismo humano, no qual, geralmente, passa a residir, em forma endocelular (5) nos músculos, no sistema nervoso, na medula dos ossos ou na intimidade de tecidos outros, aí se difundindo, na medida das resistências que lhe ofereça o mundo orgânico, desempenhando o papel de carrasco microscópico a perseguir e aniquilar populações indefesas.

 

Obsessão e Vampirismo.

 

Em processos diferentes, mas atendendo aos mesmos princípios de simbiose prejudicial, encontramos os circuitos de obsessão e de vampirismo entre encarnados e desencarnados, desde as eras recuadas em que o espírito humano, iluminado pela razão, foi chamado pelos princípios da Lei Divina a renunciar ao egoísmo e à crueldade, à ignorância e ao crime.

Rebelando-se, no entanto, em grande maioria, contra as sagradas convocações, e livres para escolher o próprio caminho, as criaturas humanas desencarnadas, em alto número, começaram a oprimir os companheiros da rectaguarda, disputando afeições e riquezas que ficavam na carne, ou tentando empreitadas de vingança e delinqüência, quando sofriam o processo liberatório da desencarnação em circunstâncias delituosas.

As vítimas de homicídio e violência, brutalidade manifesta ou perseguição disfarçada, fora do vaso físico, entram na faixa mental dos ofensores, conhecendo-lhes a enormidade das faltas ocultas, e, ao invés do perdão, com que se exonenariam da cadeia das trevas empenham-se em vinditas atrozes, retribuindo golpe a golpe e mal por mal.

Outros desencarnados, exigindo que Deus lhes providencie solução aos caprichos pueris e proclamando-se inabilitados para o resgate do preço devido à evolução que lhes é necessária, tornam-se madraços e gozadores, e, alegando a suposta impossibilidade de a Sabedoria Divina dirimir os padecimentos dos homens, pelos próprios homens criados, fogem, acovardados e preguiçosos, aos deveres e serviços que lhes competem.

 

Infecções Fluídicas.

 

Muitos daqueles (que vimos falando) acometem os adversários que ainda se entrosam (engrenam) no corpo terrestre, empolgando-lhes a imaginação com formas mentais monstruosas, operando perturbações que podemos classificar como « infecções fluídicas » e que determinam o colapso cerebral com arrasadora loucura. E ainda muitos outros, imobilizados nas paixões egoísticas desse ou daquele teor (grau), descansam em pesado monoideísmo, (ideia única) ao pé dos encarnados, de cuja presença não se sentem capazes de afastar-se (6). Alguns, como os ectoparasitas temporários, procedem à semelhança dos mosquitos e dos ácaros (animais como o carrapato) absorvendo as emanações vitais dos encarnados que com eles se harmonizam, aqui e ali; mas outros muitos, quais endoparasitas conscientes, após se inteirarem dos pontos vulneráveis de suas vítimas, segregam sobre elas determinados produtos, filiados ao quimismo (reacções químicas) do Espírito, e que podemos nomear como simpatinas (mediador químico nos nervos) e aglutininas (anticorpos no sangue) mentais, produtos esses que, sub-repticiamente, lhes modificam a essência dos próprios pensamentos a verterem, contínuos, dos fulcros energéticos do tálamo (7), no diencéfalo (8).

Estabelecida essa operação de ajuste, que os desencarnados e encarnados, comprometidos em aviltamento mútuo, realizam em franco automatismo, à maneira dos animais em absoluto primitivismo nas linhas da Natureza, os verdugos comumente senhoreiam (possedem) os neurônios do hipotálamo, acentuando a própria dominação sobre o feixe amielinico que o liga ao cortex frontal, controlando as estações sensíveis do centro coronário que aí se fixam para o governo das excitações, e produzem nas suas vítimas, quando contrariados em seus desígnios, inibições de funções viscerais diversas, mediante influência mecânica sobre o simpático e o parasimpático.

Tais manobras, em processos intrincados de vampirismo, prestigiam o regime de medo ou de guerra nervosa nas criaturas de que se vingam, alterando-lhes a tela psíquica ou impondo prejuízos constantes aos tecidos somáticos (tecidos do corpo).

 

 


 

 

Bibliografia

 

Obra: A obra « Evolução em Dois Mundos » ditada pelo Espírito André Luiz aos médiuns Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, a que já fizemos referência no artigo anterior (I) sobre esta mesma matéria.

(1) Tripanossomas são animais microscópicos da família dos protozoários, que podem infectar insectos, mamíferos e o homem.

(2) Triatoma é uma pulga silvestre, hématophage ou hématofage (animal que se alimenta de sangue) e vector potencial da doença de Chagas, sendo esta última uma doença tropical causada por protozoário Tripanossoma cruzi e transmitida por insectos da sub-família Triatominae.

(3) Reduviideo é a ninfa de percevejo.

(4) Hemiptero insecto (percevejo) com asas ou barbatanas curtas.

(5) Endocelular, sinônimo de Intracelular que significa desenvolver-se no interior da célula ou das células.

(6) É de esclarecer que em nossa prática mediúnica, já deparamos assiduamente com estes Espíritos em grande dificuldade e sofrimento.

(7) O tálamo é um centro de integração de impulsos nervosos.

(8) O diencéfalo é uma das partes do cérebro a outra é o mesencéfalo, sendo o encéfalo o centro de registro das sensações.