Corpo e bem-estar.
Costuma-se dizer que para se ter uma bôa saúde é necessário tratar bem do nosso corpo, é claro que o bom tratamento do corpo é importantíssimo, tanto do ponto de vista da sua higiene que do seu funcionamento.
Mas, sabemos hoje, que não pode haver equilíbrio e boa saúde física se não vivermos psiquicamente bem, em equilibrio, daí que se repita o velho adágio : alma sã e corpo são, (anima sana e corpore sano). Daí vejamos bem a necessidade de um equilíbrio optimal da mente e do aparelho psíquico, afim de se gozar de bem-estar e saúde corpórea.
Mas será que sabemos tratar do nosso equilíbrio psíquico e físico. Conhecemos nos o que se nos aparenta mais acessível, isto é a nossa natureza física ? Sem alguma sombra de dúvida que muitíssimo mal nos conhecemos. E quando se trata da natureza psíquica, então, ainda nos encontramos muito menos capacitados para compreendermos e daí podermos intervir sôbre a Natureza Humana, na sua totalidade.
E mesmo se Descartes considerava ser o homem : « o ser pensante por excelência, como a razão que compreende e explica o mundo e a si mesma » nem por isso deixa de haver limites, ainda não ultrapassados, que fazem com que o Homem não se sabe explicar fundamentalmente e integralmente quem é.
Para o espiritismo o Homem é um ser tríplice, isto quer dizer que ele é um Espírito, equipado de um Corpo e que entre os dois encontra-se um instrumento de ligação ou união, chamado Perispírito. Mas devemos adiantar que neste sentido a própria ciência e mais particularmente a biologia que estuda a origem da Vida, sua natureza, as características dos seres vivos e suas interações com o meio ambiente, ainda não descortinou a Vida para além da sua natureza corpórea, embora nos ultimas décadas se debruce, enfim, na análise e estudo do cérebro e daí do Mental Humano.
No campo do mental, Mivart (1) célebre naturalista inglês, analisando psicologicamente o Homem esclarecia que este « difere dos outros animais, pelas características da abstração, da percepção intelectual, da consciência de si mesmo, da reflexão, da memória racional, do julgamento, da síntese e indução intelectual, do raciocínio, da intuição intelectual, das emoções e sentimentos superiores, da linguagem racional, do verdadeiro poder de vontade. »
E claro que desde idades remotas, por exemplo desde os tempos do antigo Egipto e depois na Grécia antiga, homens como Hipócrates, na Roma antiga Claudio Galeno, e, depois desta em Bizâncio, Rhazés e Avicenes se debruçaram sôbre o estudo do Homem. Mas devemos lembrar que diferenciadamente, na Grécia antiga homens como Sócrates et Platão se interessaram (filosoficamente) pelo Homem, da sua vida e seu existir, das suas características e na medida em que a sociedade humana foi crescendo e progredindo analisaram as condições da sua existência e da sua evolução em relação às necessidades societais crescentes e ao meio ambiente em que se desenvolvia.
Segundo o investigador francês Marc Peschanski, (3) no seu livro « Le cerveau et la pensée » (em português : O cérebro e o pensamento) « … já Imothep no tempo do faraó Djéser do Egito se interessava pelas brechas cerebrais particularmente aquando dos feridos nas batalhas para determinar a associação com a perturbação da vista, da motricidade dos membros, da micção, e das desordens mentais. »
Como vemos a preocupação dos Homens para com a saúde e o bem-estar físico e mental, não é de hoje, mas é certamente paralela à existência das primeiras grandes concentrações humanas e à existência das primeiras cidades urbanizadas. Mas se Imothep deixou escrito nos papiros as suas observações, estas não foram transmitidas e só foram encontradas mais tarde.
Daí que a « necessidade de medicina » nas vilas da Grécia antiga tenham sido a palavra de ordem de Hipócrates e seus sucessores.
Influência da música na saúde.
A música não só nutre o espírito como trata doenças do corpo !
Quem ouviu uma ou outra música sem ficar com a impressão de bem-estar, e conseguiu trocar um estado menos feliz por um outro alegre e mais saudável ? Estas impressões transformadas em estados de espírito influenciam o mental e transmitem ao corpo ondas sonoras que acabam por influenciar o estado da pessoa em melhor ou pior.
São alterações causadas pelos sons e pela música que alteram o ritmo respiratório, o cardíaco, e daí o movimento do sangue nas veias e nos vasos capilares, penetrando todas as células do órgãos que constituem o nosso organismo.
A influência da música é conhecida desde a antiguidade e em certas sociedades particularmente no Oriente, ela era utilizada na mudança do estado psíquico das pessoas e daí no tratamento e cura dos doentes.
Esta terapêutica influencia o sistema emocional e dai o ter contribuido para melhorar a própria socialização das pessoas, basta para tal ver e comungar da reacção dos ouvintes da música nos concertos para nos darmos conta desta acção da música naqueles que a apreciam.
Uma das reacções da música é de produzir endorfina (2) no organismo e daí ser muito útil no combate à depressão, ao estresse, à ansiedade, e mesmo na hipertensão, no tratamento de dores crônicas e com alguma influência no tratamento do câncro.
Podemos dizer, e sem receio afirmar, que a música, sabemo-lo hoje, tem poder terapêutico e daí foi surgindo uma nova forma de tratar, isto é a Musicoterapia. Desde há alguns anos que o número de clínicas e de hospitais que utilizam esta terapia vai aumentando. Centros de integração física, psicológica e emocional pela música vão assim aparecendo. Daí, o facto de se utilizarem certas especificidades instrumentais, segundo o sentir emocional do paciente.
Da antiguidade à época actual.
Da lira de Orfeu à música electrônica, da actualidade, muitas foram as aplicações instrumentais e as sonoridades obtidas para tentar melhorar as condições existencias dos homens e mais particularmente no campo da saúde.
No oriente a concepção de doença mental é bastante diferente da noção de psiquiatria ocidental, por exemplo. Embora a ciência dos sons e das notas de música façam parte das antigas sociedades orientais, também cedo aqui se compreendeu a importância da música sobre o psiquismo do ser vivo. A ressonância e a vibração particular produzida pelas sonoridades instrumentais tiveram grande importância no tratamento de doenças.
O equilíbrio significa a necessidade de a música interior, suscitada na intimidade do indivíduo, estar em harmonia perfeita com os sons ou seja a música vinda do exterior. Quando esta sintonia não existe, devido a excessos ou desequilíbrios, o perigo bate à porta. Os sons desordenados, a música corrompida, são nefastos à saúde e basta que os sintamos desagradavelmente, ao ouvido ou ao corpo, para ficarmos algo indispostos.
Nós sabemos que embora certas músicas modernas do género hard-rock ou até a música metálica, sejam do gôsto de muita gente, (o que não pômos em causa) é fácil admitir que sejam bastante desajustadas para a harmonia e a sintonia procuradas, pelos nossos sentidos, e que daí advenham certos desajustes no campo do psiquismo, de certos ouvintes ferrenhos.
Ainda ilustramos o nosso propósito pelo exemplo do funcionamento de ferramentas e máquinas de estampagem, em atelieres, que pelo eco e o ruído que desenvolvem constituem um perigo para a audição, na medida em que os trabalhadores são expostos a decibéis persistentes que ultrapassam os limites e que nessas condições, seja pôsto em causa o equilíbrio e se contraiam doenças diversas : desajustes nervosos, perturbações auditivas, fadiga persistente, com consequências que podem ser graves.
Recentemente uma dupla de pesquisadores (4) refez 155 estudos sobre a influência da música na neuroquímica humana e declaram : « Nos encontramos evidências convincentes de que intervenções musicais podem ter um papel na saúde. » Isto é o que destaca o professor Daniel J. Levitin, canadiano, que prossegue dizendo « Mais importante ainda, documentamos os mecanismos neuroquímicos pelos quais a música tem um efeito em quatro domínios : temperamento, estresse, imunidade e interacções sociais ».
Segundo ainda estes autores, certas músicas podem, elevar a produção de imunoglobulina A (um anticorpo essencial) e de células brancas que atacam invasores como bactérias e germes. Além disso ouvir ou tocar música pode reduzir os níveis de cortisol (conhecido como hormônio do estresse) no corpo, e elevar os de oxitocina (ligado ao bem-estar) no corpo, melhorando o humor da pessoa e facilitando interações sociais – o próprio hábito de se reunir amigos para ouvir música também poderia ser levado em consideração nesse ponto.
Está visto e provado que a música distrai, estimula, enfim, torna todo o processo (aborrecido e cansativo para alguns) mais tolerante. Como vêmos a música muda, o corpo e a mente, afasta da dor e da fadiga, aumenta a resistência e pode produzir eficiência metabólica.
Assistamos a concertos de música harmoniosa e saibamos que assim melhoramos a nossa saúde vivendo mais alegres.
Bibliografia
(1) Georges Jackson Mivart, citado na obra acima foi um célebre naturalista inglês formado em medicina e biologia, o qual criticava certas partes de teoria de Darwin.
(2) A endorfina é uma substância química, hormonal, neurotransmissora utilizada pelos neurônios na comunicação do sistema nervoso. Transportada pelo sangue, comunica com outras células e produz bem-estar. A sua descoberta data de 1975 e existem 20 tipos diferentes desta substância.
(3) Marc Peschanski é um neurocientífico francês, especialista das células mãe. Trabalha no INSERM, CHU Henri-Mondor, director do I-Stem. Publicou trabalhos de grande valor sobre as doenças neurodegenerativas.
(4) Dois pesquisadores do departamento de psicologia da Universidade McGill no Canada. Publicação « Trends in Cognitive Science ».
(5) « O Home integral » recebido pelo médium Divaldo Pereira Franco, por comunicação do Espirito Joanna de Ângelis.