Conversar com Deus.

Introdução.

 

Assiduamente se fala em orar, ha ainda quem diga rezar, mas na verdade a questão consiste em falar com Deus, seja so, na intimidade, seja colectivamente ou em comunhão com outras pessoas.

Orar, pode ser feito por todo o lado, sem lugar preciso, porque orar é com fé e como dizia o mestre Kardec, a fé deve ser racional, daqui convimos que se deve falar com Deus, refletindo e sendo conciso.

Ainda mais, falar com Deus não admite subterfugios, nem disfarces, porque Deus sabe e entende antes de sabermos e entendermos nos-proprios. Sendo Deus a Essência das essências, nada lhe pode ser oculto da nossa parte. Por isso é que falar com o Criador ou o Pai que é a essência da vida é faze-lo com palavras simples e economicas. E exprimir-lhe nossas necessidades e nossa gratidão.

Estando Deus por todo lado e em tudo, também esta em nos, desde que o queiramos ter connosco e guarda-lo no nosso sacrario intimo, dai a facilidade com que podemos estabelecer um contacto Ele, « …inteligência suprema e causa primeira de todas as coisas. » (Allan Kardec « O Livro dos Espiritos » – Cap. Primeiro – Deus e o Infinito).

 

Quem precisa de orar ?

 

E muito naturalmente que o homem pode falar com Deus. E, como disia Jesus «… não são os que se encontram bem que precisam de médico ». Na verdade, são todos os que vivem a situação mais dificil, dentre esta a pobreza, e, deserdados de tudo, que devem procurar consolação, na condição de o orgulho não os cegar a ponto de perder a consciência da existência de Deus, esse Pai Eterno, fonte de amor e de luz.

Os médiums são certamente aqueles que mais assiduamente devem orar por eles-proprios e pelos seus semelhantes. Por eles-proprios, porque são na grande maioria e historicamente os mais endividados e devem procurar no arrependimento e a actividade benfeitora os meios de pagarem suas dividas. Orar, pelos outros, porque a pratica da caridade, faz parte do processo de refazimento, de transformação da nossa evolução, retomando no ponto mais indicado o facto de ai terem abandonado a pratica da caridade e da bondade.

Justa volta das coisas, amar e ser amado, necessita de reaver para si o ensino do Espirito de Verdade do qual Allan Kardec nos diz « Sem Caridade, não ha Salvação ! ». Francamente, como nos dizer-mos espiritas se a Caridade nada mais representa que uma palavra oca e sem pratica. Se a mediunidade praticada segundo a ética espirita, so existe na palavra, oca e na vaidade, sem nenhuma mudança de habitos e não serve os mais necessitados, então mais vale repensar os nos sentimentos e prever outra atitude, para nos pôr-mos em equação com os principios éticos da nossa bela doutrina.

Para muitos dentre nos, espiritas, que fazemos parte do grande numero de cristãos, que ao longo dos séculos falharam, abandonando as nobres praticas dos principios de moral, ou pensando mais nos bens materiais que naqueles que poderiam enriquecer os Espiritos que eramos, então. E que talvez tenhamos renegado o proprio Cristo.

Não percamos mais tempo, sigamos em direcção daquelas e daqueles cuja desventura os carimba na actualidade da mesma maneira que nos carimbou ontem, e cujas sequelas emergem ainda no nosso intimo. Oremos por nos, oremos por todos elles.

 

Pedi e recebereis.

 

Do que podemos ler no Evangelho Segundo o Espiritismo, as qualidades da oração estão claramente definidas. Ja que Jesus dizia : (Extrato) «Quando orais, não se ponham em evidência, orai antes no secreto ; não vos incomodeis com longas orações, porque não é pelo grande numero de palavras que sereis satisfeitos, mas so pela sinceridade.»

E acrescentava : « Quando vos apresentéis para orar, se tendes algum ressentimento contra alguém, perdoai-lhe, para que o Pai, que esta no céu, vos perdoe também por vossas culpas. E para que a oração seja efectiva, São Marcos reforça os seus dizeres, afirmando : « Qualquer que seja a coisa que peçais pela oração, acreditai que a obteréis, e vos sera acordada.»

Allan Kardec exprime-se assim : «Contestar a eficacidade da oração, baseando-se no principio que Deus conhece as nossas necessidades, que desde então, torna-se superfluo expô-las, que tudo se encaminha no universo, atravéz das leis eternas, e que nossos pedidos jamais mudarão os decretos de Deus. Não haja duvida, que existem leis naturais, imutaveis, que Deus não pode revogar segundo o capricho de cada um ; e dai crer que todas as circuntâncias da vida estão submetidas à fatalidade, vai uma grande distância.»

« Deus, pode aceder a certos pedidos sem derrogar a imutabilidade das leis que regem o conjunto, o seu acesso esta sempre subordinado à sua vontade. » Diriamos e sem pôr em causa o principio estabelecido por nossos pais no seio da familia, que podem, estes, devido a um pedido ou necessidade, rever uma outra outra situação, se um dos seus filhos lhes fazem pedido.

« A oração é uma invocação ; por meio dela pômo-nos em relação de pensamento com o ser ao qual nos indereçamos. El apode ter por fim um pedido, um agradecimento ou uma glorificação. Pode-se orar por si-proprio ou por alguém mais, pelos vivos e pelos mortos. As orações dirigidas a Deus são entendidas pelos Espiritos encarregados de executar a sua vontade ; e todas as orações feitas aos bons Espiritos são levadas até Deus. Quando oramos a outros sêres que a Deus, é apenas enquanto intermediarios, intercessores, até porque nada pode ser feito sem a vontade de Deus. »

 

Os nossos limites.

 

Fica claro, que nada pode ser feito sem a intervenção de Deus, mas com nosso libre-arbitrio, selado pelo Criador na consciência de cada um, desde que fômos criados no passado distante, podemos fazer ou não fazer aquilo que queremos e como o entendemos. Assim sendo, podemos dirigir-nos livremente a Inteligência Suprema, para lhe pedir a possibilidade de solucionar-mos um ou outro problema e desde que nosso pedido não vai derrogar as Leis Fundamentais estabelecidas, e se o mérito esta connosco, uma tal solução devera realizar-se.

E se ainda, preventivamente não estamos certos de poder encontrar tal solução, se a duvida nos invade, mesmo neste caso nada devera obstar ao pedido que lhe fizemos. Tanto mais porque sômos Sêres limitados, em via de progressão, aonde a falta de saber e de maturidade, não permitem ainda de conseguir compreender e apreender bastantes coisas. Desde logo, não nos queiremos infaliveis, suficientes, na frente da Perfaição de Deus, e submetemos-lhe com simplicidade e sinceridade, as nossas necessidades, as dificuldades em que nos encontramos, antes de reagir negativamente em relação ao pedido e de conseguir a ligação refletida e consciente.

Sendo Deus a Super-Inteligência, a Hiper-Conciência, de onde flui o Amor, enquanto elemento primeiro na base das suas relações com todos os seus filhos, por todo o lado, em qualquer condição, quer sejam encarnados ou desencarnados, nada pode impedir esse laço e essa relação, salvo a nossa falta de confiança, de fé e a arrogância, que nos limitam.

Deus não é obstaculo. O obstaculo que podera existir, reside em nos, que sômos os unicos responsaveis daquilo que sômos, pelo momento, e so os nossos limites, de luz, de energia, de força, e de convicção, mantêm o entrave mais profundo e o no que deve ser desfeito, para que enfim possamos voar dinâmicamente e com segurança, pelos ares inefaveis, em direcção da Fonte Suprema, Criadora de todas as coisas e que responde às nossas solicitudes.

 

O que se passa no momento da oração ?

 

Na pagina 362.10 do Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec explica : « O Espiritismo faz compreender a acção da oração explicando o modo de transmissão de pensamento, dai que o sêr a quem oramos acquiesça ao nosso apelo, ou que o nosso pensamento o alcance. Para nos darmos conta do que se passa nesta circunstância, sera necessario representar todos os sêres encarnados e desencarnados no seio do fluido universal que ocupa o espaço, como aqui na terra nos encontramos na atmosfera.

Esse fluido recebe uma impulsão da vontade ; é ele o veiculo do pensamento, como o ar é o do som, com a diferença que as vibrações do ar se circunscrevem, embora as do fluido universal se estendam ao infinito. Desde que o pensamento é dirigido para qualquer ser, na terra ou no espaço, de encarnado para desencarnado, ou de desencarnado para encarnado, uma corrente fluidica se estabelece entre um e outro, transmitindo o pensamento, como o ar transmite o som.

A energia da corrente esta na razão da do pensamento et da vontade. E desta forma que a oração é entendida dos Espiritos em quelquer lugar aonde se encontrem, que os Espiritos comunicam-se entre eles, e nos transmitem as suas inspirações, que as relações se estabelecem a distância entre os encarnados. Esta explicação é feita particularmente com vista aqueles que não compreendem a utilidade da oração puramente mistica ; esta explicação não tem por fim de materialisar a oração, mas de tornar o seu efeito inteligivel, demonstrando que pode exercer uma acção directa e efectiva. Sem que por isso deixe de estar subordinada à vontade de Deus, juiz supremo de todas as coisas, e so ele pode tornar a sua acção eficaz. »

Seguidamente na pagina 363.11 continua explicando : « Pela oração, o homem chama a ele o concurso dos bons Espiritos que assim vem ampara-lo nas suas boas resoluções, e inspira-lo nos bons pensamentos ; desta forma adquire a força moral necessaria para vencer as dificuldades e entrar no caminho recto se dêle se afastou ; é ainda assim que pode afastar os males que atraiu para si por sua falta. Um homem, por exemplo, vê a sua saude arruinada pelos excessos cometidos, et carrega, até ao final dos seus dias, uma vida de sofrimento ; tera este homem o direito de se queixar se não obtêm a cura ? Não, porque podia encontrar na oração a força de resistir às tentações. »

Continuando as suas profundas explicações, em pagina 363.12, diz-nos : « Si repartimos em duas partes os males da vida, uma daqueles males que o homem não pode evitar, a outra das tribulações cuja causa reside nêle, na sua incuria e nos seus excessos, veremos que esta é muito mais forte que a outra. Esta patente que o homem é o autor da mais parte das suas aflições, e as evitaria se soubesse agir com calma e prudência. »

E ainda na pagina 365.13 podemos ler : « Acedendo ao pedido que lhe é indereçado, Deus têm muitas vêzes em vista a recompensa da intenção, da devoção e da fé daquele que ora ; é esta a razão porque em muitos casos a oração do homem de bem têm mais mérito aos olhos de Deus, e mais eficacidade, porque o homem viciado e maligno não pode orar com fervor e confiança que so ela lhe da o sentimento da verdadeira piedade. »

Eis-nos de facto, esclarecidos sôbre a utilidade real e a benção da oração. Se muitos duvidam é simplesmente porque nunca foram favorecidos pelo bem que faz e as suas doçuras, activas, actuantes e sublimes.

 
 


 

Bibliografia

 

1° – Allan Kardec – « O Livro dos Espiritos » e « O Evangelho Segundo o Espiritismo ».

2° – Realisação e desenvolvimentos da EPADIS.