Bandeirantes dos novos tempos.

Apos o suplicio de Jesus e na sua ausência a tristeza e o abatimento apoderaram-se dos seus apostolos e seguidores.A duvida e o desconcerto eram patentes.
So depois da viagem de Paulo a Damasco, da sua conversão e volta a Jerusalém é que foi possivel restaurar ânimos e desde então pôr termo às oscilações e iniciar timidamente reuniões de oração e auxilio no domicilio de apoiantes afectos à sociedade romana instalada em Jerusalém, capital médio-oriental do império.
Na sua vontade de reafirmarem as convicções vindas do nazareno amigo, apostolos e seguidores, alguns destes ultimos relativamente jovens, trabalharam afincadamente naquela que podemos considerar como nova alvorada cuja atmosfera trazia grandes mudanças na vida dos homens e dos povos dispersos nos quatro quadrantes do império e de outras populações do mundo de então.
E de salientar que a formação das ‘Casas do Caminho’ que reuniam os apostolos e apoiantes de Jesus nos seus alvores foram vitimas da repressão imperial, sofrendo constantes ameaças e proibições. Nada no entanto impedia a adesão crescente de pobres e necessitados aos principios benfeitores e humildes em que assentava a sua existência.
O ambiente que nelas respiravam era de grande esperança, a exemplo do que se tinha passado nas catacumbas, os mais sensiveis dos presentes recebiam inspiração, prestando-se ao surto de mensagens e cânticos de grande simbolismo confirmando relações entre as duas componentes da existência imortal que eram o renascer e a sobrevivência do espirito para além do morte fisica.
Nesta atmosfera de alta intimidade reconfortante percebia-se a simplicidade da palavra, o valor ético comunicado assiduamente, penetrava profundamente na memoria dos presentes para nêles se enraizar e fixar residência permanente. A mediunidade de propensão profética era testemunhada por homens e mulheres jovens das quais sobressaia uma grande intensidade emotiva.
Vindos de esferas da espiritualidade onde se encontravam, inumeros eram os Espiritos familiares e amigos também ali se reuniam e associavam criando ambiente intimo de grande fortalecimento harmonico e alegre. Era neste ambiente simples e humilde, que muitos encontravam solução a muitos dos seus sofrimentos e sentiam a minoração das suas dôres e apoquentações.
Este fervor e autenticidade tinha por figura central Jesus, em nome do qual todos se reuniam e demonstravam fé e esperança. Jovens e menos jovens todos se sentiam irmanados num ambiente de imensa unidade e ligação ao mestre supliciado como malfeitor na cruz, forma de tratamento dada pela ordem imperial e os costumes da época aos deserdados da sociedade.
O fio condutor que unia todas as Casas do Caminho proporcionava um ar de liberdade e de unidade ao Pai de Amor, desenvolvendo o ar emancipador e de esperança num mundo novo, livre repleto de oportunidades no serviço e pratica do bem e de auxilio, verdadeiro suspiro e aspiração alimentado por todos os presentes naquêles tempos em que irrompiam no ambiente terrestre entre duvidas e desejos as premissas de consolo na solidariedade e na fraternidade.
Era este o fundamento que dava asas aos promotores do ideal herdado de Jesus e lhes propiciava energia e força para desenvolver sempre mais e mais assembleias reunindo numero crescente de presentes a tal ponto que as autoridades imperiais impuseram de tempos a tempos grandes descargas repressivas contra um movimento massivo de adesão aos ideais vindos de Jesus e outrora alimentado e sustentado pelos apostolos da primeira e segunda geração.
O movimento então em grande desenvolvimento parecia irromper de forças sobrehumanas activadas generosamente e sempre que a repressão era efectiva e maior era a adesão que lhe seguia e dai a resolução imperial de tentar acerto com o movimento e integra-lo para depois o arregimentar e enfraquecer aos olhos dos povos sob dominio romano.
Sem direcção unica, dificil era tratar com o movimento, dai os concilios e outros conciliabulos mais ou menos oficiais dos primeiros séculos, em que o movimento cristão tentava fazer imergir uma autoridade e embora esta fôsse eleita pelas diversas comunidades compostas pelas ‘Casas do Caminho’ e fôssem seus membros a eleger essa autoridade, o dominio imperial jamais foi completo sobre o movimento cristão, ao qual afluiam novas gerações detentoras de mediunidades genuinas para assistência e auxilio fora de interêsses particulares.
O império romano acabou por se dividir entre duas facções, uma a ocidente e outra a oriente cada uma com seu imperador, empurrando desta forma o movimento cristão para tendências no seu seio, obedecendo às autoridades imperiais dominadoras no terreno em que subsistia o império. Novas forças excêntricas apareciam aos quatro cantos do ex-império romano com expressiva energia e vontade de independência.
Neste interregno aparecem os primeiros ataques levados a cabo por exércitos dos povos hérulos da Germania, cujos confrontos acabam por debilitar as forças de Milão, capital imperial a ocidente e a sua queda da-se 476 d.C. A parte oriental do império mantêve-se tendo por capital Constantinopla e sob o nome de império bizantino. Estas grandes mudanças no terreno socio-politico do império dominado por crises e corrupções, foram desgastantes e impuseram alterações no movimento da cristandade.
A resiliência cristã manteve-se enquanto assentava na actividades de grupos e casas do caminho, para os quais a gratuidade e o desinterêsse era o toque refinado pela dedicação e o amor dispensado. Quando alguma oferta era aceite em comestiveis distribuidos em favôr da colectividade, sobretudo dos seus membros mais carentes numa época em que a crise economica e o empobrecimento se alastravam nas suas fileiras paralelamente à falta de mantimentos que a agricultura não podia produzir em tempos de guerra.
Os cristãos nesta época de crise gravissima, parece terem sabido resistir melhor que grande parte da sociedade, e particularmente as bases do exército romano sentiam-se cansadas, as prebendas distribuidas ja não satisfaziam nenhum soldado. As bases nas quais assentava a sua existência reduziam-se aceleradamente, na desconfiança e na desordem generalizada, esta situação adivinhava a crise irreparavel e o desmoronamento do velho mundo imperial.
A conclusão que se pode tirar é que a actividade desenvolvida ao longo dos quatro primeiros séculos pelo cristianismo d.C. foram decisivos para o futuro da humanidade, pois malgrado os desvios e as submissões erraticas, os membros das casas do caminho foram os precursores de uma nova cultura de fé e de democratização da mediunidade preparando a sociedade futura para novas incursões no campo da sabedoria e da pratica do fraternidade e do amor a qual desembocara nos Tempos novos que se adivinham.
Bandeirantes de Jesus e hoje porta-vozes do grande movimento aberto pela Doutrina espirita rumo a novas esperanças e harmonias semeadas no imenso processo de emancipação do Espirito.

 


Artigo elaborado por André para a Epadis, em 08.11.2022.