A volta da Obsessão.

O processo obsidiente.

 

Na continuação de uma informação sempre mais profunda da questão da obsessão e do processo, por vêzes longo e com causas antecedendo a nossa actual existência, com assentos multiplos, nos afazeres da nossas vidas anteriores, vamos então dar uma volta, pelas obras espiritas que nos falam desta doença do espirito e da sua mente.

Assim encontramos esta frase no livro « Nos Bastidores da Obsessão » ditado pelo Espirito Manoel Ph. De Miranda ao médium Divaldo P. Franco, pagina 30 : « O problema da obsessão, sob qualquer aspecto considerado, é também problema do proprio obsidiado ». (…)

A etiologia* das obsessões é complexa e profunda, pois que se origina nos processos morais lamentaveis, em que ambos os comparsas (obsidiente e obsidiado) da aflição dementante (de demência) se deixaram consumir pelas vibrações degenerescentes da criminalidade que passou, invariavelmente, ignorada da colectividade onde viveram como protagonistas do drama ou da tragicomédia em que se consumiram.

Em pagina 34 : « Ninguém se equivoque ! Obsessores ha desencarnados, exercendo maléfica influenciação sobre os homens, e encarnados, de mente vigorosa, exercendo pressão deprimente sobre os deambulantes da Erraticidade. O comércio existente entre os Espiritos e as criaturas da Terra, em regime de perseguição, é paralelo ao vigente entre os homens e os que perderam a indumentaria fisica. (…) Aguilhões frequentes perturbam o comportamento de muitas criaturas que se sentem vinculadas ou dirigidas por fortes constrições nos painéis mentais, inquietantes e afligentes… »

« Transmissão mental de cérebro a cérebro, a obsessão é sindroma alarmante que denuncia enfermidade grave de erradicação dificil ».

 

* Etiologia é a causa do fenomeno, isto é a causa da obsessão.

 

As causas do processo obsessivo espiritual.

 

No « O Livro dos Médiums » de Allan Kardec, capitulo XXIII, Da obsessão, 245, podemos ler : « Os motivos da obsessão variam conforme o carater do Espirito ». Por vêzes os Espiritos que assim procedem, é por odio e por inveja do bem. Por isso se atacam a pessoas que vivem decentemente e fazem bem.

« Outros são guiados por um sentimento de cobardia, que os leva a aproveitar a fraqueza moral de certos individuos que sabem incapazes de lhes resistir. Um dêstes, que subjugava um rapaz de inteligência muito acanhada, interrogado sôbre os motivos de sua escolha respondeu : Tenho uma grande necessidade de atormentar alguém ; uma criatura razoavel repelir-me-ia ; ligo-me a um idiota que não me opõe nenhuma virtude. »

Voltando a « Nos Bastidores da Obsessão » pagina 169, falando de um hospital existente no plano espiritual : « – Nesta Casa, como em outras similares, desfilam os que afrontaram o corpo, desrespeitando-lhe as fontes de vida ; os que esmagaram outras vidas, enquanto possuiam nas mãos as rédeas do poder, os que fecharam ouvidos e os olhos ao clamor das multidões esfaimadas e enlouquecidas de dor ; mãos que ergueram o relho e dilaceraram ; corações que se empedraram na indiferença, enquanto fruia o licor da fortuna, da nobreza mentirosa, da beleza em trânsito na forma ; os fomentadores do odio, os soberbos, os orgulhosos, alguns suicidas calcetas inveterados, em constante tentação para desertar o fardo outra vez… »

« O sofrimento, sob qualquer forma em que se apresente, é benção. Para que, no entanto, beneficie aquele que o experimenta, faz-se indispensavel ser acompanhado pela resignação, pela humildade, pela valorização da propria dor. Não basta, portanto, sofrer, mas bem sofrer, libertando-se das causas matrizes da aflição. »

 

Estado pré-obsessivo.

 

Encontramos no livro « A Imensidão dos Sentidos, pag. 79 » transmitido pelo Espirito Hamed ao médium Francisco do Espirito Santo Neto com o titulo ‘Honestidade emocional’ que pelo interesse que reveste, para o tema que estamos tratando, reproduzimo-lo na integra. 

« Um individuo em estado de fixação mental nada vê, nada ouve, nada sente ou nada percebe além da pessoa, objeto ou facto a que sua mente cristalizada se prendeu.

A fixação mental pode perdurar por séculos, ou seja, por diversas encarnações. A alma se isola do mundo externo, passando a visualizar unicamente o centro do desequilibrio, permanecendo paralisada, dominada por ocorrências ou factos aflitivos, recentes ou remotos.

Trata-se de uma verdadeira tortura mental sobre a qual o enfermo não tem nenhum contrôle. A fonte pensadora mantém um dialogo ininterrupto : vive em constante conversa de si para consigo mesmo. A mente se fixa em determinada criatura ou acontecimento e fica incapaz de evitar que os pensamentos, as discussões e as palavras continuem girando sem parar. O mundo mental se torna hiperativo ; repete o mesmo problema muitas vezes, levando a criatura à fadiga, acompanhada de uma sensação de cabeça pesada e de sobrecarga intima.

A perturbação interior pode imobilizar-se por tempo incalculavel entre os fios de sua « textura de escuridão ». A alma infeliz se faz prisioneira não so de inimigos externos, mas sobretudo, dos mais ferrenhos inimigos : os internos. Individuos doentes contemplam tão somente, e por largo tempo, as aflitivas criações mentais deles mesmos, ficando obstruida a possibilidade de observarem novas e edificantes paisagens de desenvolvimento e crescimento espiritual.

São processos de monodeismo,* verdadeiros estados mentais alucinatorios, em que vivem isolados em circuitos fechados. São aprisionados nos proprios painéis intimos e justapostos às criaturas afins, desencarnadas ou não, coagulando ou materializando imagens repetidas por associação individual e espontânea.

Reservados, insociaveis, carrancudos, timidos, envergonhados, super-sensiveis e desprovidos de humor, eis as caracteristicas mais frequentes desses individuos. Na mansão do pensamento, o raciocinio emite as ordens, mas é o sentimento que guia. A pessoa que não consegue aproximar-se dos outros e expressar suas emoções cria uma aversão à afetividade ; reduz cada vez mais sua capacidade amorosa, tornando-se indiferente e apatica.

As criaturas desenvolvem um « mecanismo de distância », isto é, cultivam um « isolamento alucinatorio ». Vivem uma espécie de desonestidade emocional, criando um afastamento não apenas do mundo, mas também de si mesmas.

« (…) a permanência de certas imagens que não são mais apagadas, como no estado normal, pelas preocupações da vida exterior (…) » e « a verdadeira alucinação e a causa primaria das idéias fixas (…) » podem estar potencialmente ligadas ao facto de não expressarem nossos sentimentos ou emoções.

Criamos um bloqueio mental e/ou emocional, separando o nosso horizonte contextual e o nosso conteudo sentimental, o que resulta na perda do verdadeiro significado de nosso mundo afetivo.

Estar com medo ou negar o que sentimos pode nos levar a uma situação que provoca alucinação. A criatura não consegue resolver-se, por ignorar suas reacções emocionais, nem mexer-se, porque se autodistrai, criando uma ideia fixa que a mantém imobilizada ou paralisada intimamente. Aprender a identificar o que estamos sentindo é um desafio que podemos dominar, mas não nos tornamos especialistas da noite para o dia. Ignorar as sensações não faz com que os sentimentos desapareçam.

 

* Monodeismo ou estado de espirito ocupado com uma so ideia ou fixação constante numa ideia unica.

 

Muitos de nos tentamos nos convencer de que não devemos entrar em contacto com nossos sentimentos ; ficamos habeis em seguir as regras do « não sinto nada » ou « não devo sentir isso ». De todas as proibições que tivemos, essas talvez sejam as regras mais duradouras e persistentes em nosso mecanismo mental. Precisamos deixar um espaço para trabalhar nossos sentimentos e emoções. Somos seres humanos, não marionetes.

Quem somos, como amadurecemos, como vivemos e como crescemos, tudo esta intimamente interligado com nossa area emocional – uma parte preciosa de nos mesmos. Realmente temos sentimentos, às vezes dificeis e problematicos, outras vezes explosivos, que precisamos reprimi-los rigidamente, nem permitir que eles nos controlem ou nos imponham actos e atitudes. Lembremo-nos de que apenas podemos nos redimir até onde conseguimos nos perceber, ou seja, até onde nos permitimos sentir.

Como nos reformar, se evitamos constantemente nossas sensações ? Muitos de nos ficamos longo tempo ligados na negação. A « negação » é considerada um mecanismo de defesa que nos protege até que possamos ficar equipados para lidar com os factos da vida, dentro e fora de nos. Mas não devemos passar muito tempo negando a realidade.

A alucinação ou a idéia fixa, tanto consciente quanto inconsciente, limita a nossa liberdade de acção nas actividades mediunicas, como também nos diversos sectores da vida. Toda ilusão deixa a criatura obcecada, e não admitir o que se sente é uma forma de auto-ilusão. Para não ficar-mos enredados nas malhas da fixação mental, precisamos entrar em contacto com o « chão da realidade ».

A cura definitiva para esse tipo de mal é aprimorar nossos sentimentos e abrandar nosso coração, identificando com atenção as reacções interiores e transformando-as para melhor.

A Vida Maior não tenta distanciar o homem da Natureza, mas facilitar sua conexão com ela. Portanto, mais cedo ou mais tarde, o homem tera de voltar à naturalidade da vida, destruindo gradativamente os excessos do formalismo social e religioso e os exageros do artificialismo das convenções, que contrariam as leis naturais e, por consequência, geram conflitos ilusórios e perturbação intima.

A edificação da paz no reino interior se estabelece em nos definitivamente quando começamos a cultivar a « honestidade emocional » em todas as nossas relações, com nos mesmos ou com os outros.

 


Ndr : Algumas alterações linguisticas raras existentes são da responsabilidade da equipa de redacção da EPADIS.