Ha quem diga, muito acertadamente, que a vida é uma viagem de comboio. Mas este ditado é valioso para esclarecer, quem sômos, de onde vimos e para onde vamos ?
A questão central que nos é posta consiste em saber quem sômos ? Ha quem diga que sômos um corpo e uma inteligência ao mesmo tempo. Esta resposta esta certa, mas so responde a uma parte do assunto, ja que so nos fala do efeito e não da causa, pondo de lado a entidade que demonstra a sua inteligência e se reveste de um corpo. Quem pensa e quem se reveste ?
No seu livro « A Génese », cap. X, pag.228, alinea 25, Allan Kardec, explica : ‘O homem
25. Do ponto de vista corporal e puramente anatômico, o homem pertence à classe dos mamíferos, dos quais difere apenas por pequenas nuanças na forma exterior, do resto, possui a mesma composição química de todos os animais, os mesmos órgãos, as mesmas funções e os mesmos modos de nutrição, de respiração, de secreção e de reprodução.
Ele nasce, vive e morre nas mesmas condições e, quando morre, seu corpo se decompõe, como o de tudo o que vive. Não há no seu sangue, na sua carne e nos seus ossos, um átomo a mais nem a menos do que os que são encontrados no corpo dos animais; como estes, ao morrer, ele restitui à terra o oxigênio, o hidrogênio, o carbono e o nitrogênio que se haviam combinado para formá-lo; esses elementos, através de novas combinações, irão formar outros corpos minerais, vegetais e animais.
A analogia é tão grande, que, sempre que as experiências não podem ser realizadas no próprio homem, as suas funções orgânicas são estudadas em certos animais.’
E mais adiante :
27. Por pouco que se observe a escala dos seres vivos, sob o ponto de vista do organismo, somos forçados a reconhecer que, desde o líquen até a árvore, e desde o zoófito até o homem, há uma cadeia que se eleva gradativamente, sem solução de continuidade, e da qual todos os elos têm um ponto de contato com o elo precedente.
Acompanhando-se passo a passo a escala dos seres, pode-se dizer que cada espécie é um aperfeiçoamento, uma transformação da espécie imediatamente inferior. Uma vez que o corpo do homem, no que respeita à sua química e à sua constituição, é idêntico aos outros corpos, já que ele nasce, vive e morre do mesmo modo, ele também deve ter se formado nas mesmas condições.
28. Ainda que isso possa ferir o seu orgulho, o homem deve se resignar a ver no seu corpo material apenas o último elo da animalidade na Terra. Aí está o inexorável argumento dos fatos, contra o qual seria inútil ele protestar. Entretanto, quanto mais o corpo diminui de valor aos seus olhos, mais cresce a importância do princípio espiritual.
Se o primeiro nivela o homem ao bruto, o segundo o eleva a incomensurável altura. Vemos o limite onde se detém o animal; não vemos o limite que o espírito do homem pode atingir.
Capitulo XI sôbre a Génese espiritual : Princípio espiritual do homem
1. A existência do princípio espiritual é um fato que, por assim dizer, não tem mais necessidade de demonstração que o princípio material. É, de certa forma, uma verdade axiomática. O princípio espiritual se afirma por seus efeitos, como a matéria por aqueles que lhe são próprios.
De acordo com esta máxima: “Todo efeito tendo uma causa, todo efeito inteligente deve ter uma causa inteligente”, não há quem não faça a diferença entre o movimento mecânico de um sino agitado pelo vento, e o movimento desse mesmo sino destinado a dar um sinal, um aviso, comprovando por este fato um pensamento, uma intenção.
Ora, como não pode ocorrer a ninguém a ideia de atribuir pensamento à matéria do sino, teremos de concluir que ele é movido por uma inteligência, à qual serve de instrumento para se manifestar. Pela mesma razão, a ninguém ocorreria atribuir pensamento ao corpo de um homem morto. Se, quando vivo, o homem pensa, é porque há nele alguma coisa que não existe mais quando está morto. A diferença existente entre ele e o sino é que a inteligência que faz mover o sino está fora dele, enquanto que aquela que anima o corpo do homem está nele mesmo.
2. O princípio espiritual é o corolário da existência de Deus; sem esse princípio, Deus não teria razão de ser, uma vez que não se poderia imaginar a soberana inteligência reinando, pela eternidade afora, apenas sobre a matéria bruta, assim como não se poderia conceber um monarca terreno que reinasse durante toda a sua vida exclusivamente sobre pedras. Como não se pode admitir Deus sem os atributos essenciais da Divindade, a justiça e a bondade, essas qualidades seriam inúteis se elas só pudessem ser exercidas sobre a matéria.
3. Por outro lado, não se poderia conceber um Deus soberanamente justo e bom, criando seres inteligentes e sensíveis, para lançá-los no nada, após alguns dias de sofrimento sem compensações, recreando-se na contemplação dessa sucessão infinita de seres que nascem, sem que o tenham pedido, pensam por um instante para conhecerem apenas a dor, e se extinguem para sempre, após uma efêmera existência. Sem a sobrevivência do ser pensante, os sofrimentos da vida seriam, da parte de Deus, uma crueldade sem objetivo. Eis por que o materialismo e o ateísmo são corolários um do outro. Negando a causa, não se pode admitir o efeito; negando o efeito, não se pode admitir a causa. O materialismo é, assim, coerente consigo mesmo, embora não o seja com a razão.
Ha quem diga, muito acertadamente, que a vida é uma viagem de comboio. Mas este ditado aparece para esclarecer, quem sômos, de onde vimos e para onde vamos ?
A questão central que nos é posta consiste em saber quem sômos ? Ha quem diga que sômos um corpo e uma inteligência ao mesmo tempo. Esta resposta esta certa, mas so responde a uma parte do assunto, ja que so nos fala do efeito e não da causa, pondo de lado a entidade que demonstra a sua inteligência e se reveste de um corpo. Quem pensa e quem se reveste ?
4. A idéia da perpetuidade do ser espiritual é inata no homem; ela existe dentro dele sob a forma de intuição e de aspiração. O homem compreende que somente nisso está a compensação das misérias da vida. Essa é a razão por que sempre houve e haverá cada vez mais espiritualistas do que materialistas, e mais deístas que ateus.
À idéia intuitiva e à força do raciocínio, o Espiritismo acrescenta a sanção dos fatos, a prova material da existência do ser espiritual, da sua sobrevivência, da sua imortalidade e da sua individualidade. Ele torna preciso e defi nido o que essa idéia tinha de vago e de abstrato. Ele nos mostra o ser inteligente atuando fora da matéria, seja depois, seja durante a vida do corpo. 5. O princípio espiritual e o princípio vital são uma só e a mesma coisa? Partindo, como sempre, da observação dos fatos, diremos que, se o princípio vital fosse inseparável do princípio inteligente, haveria uma certa razão para confundi-los; mas, como se vêem seres que vivem e não pensam, como as plantas; corpos humanos serem ainda animados de vida orgânica, quando já não existe nenhuma manifestação de pensamento; movimentos vitais se produzirem no ser vivo, independentes de qualquer ação da vontade, e que durante o sono a vida orgânica se mantém em plena atividade, enquanto que a vida intelectual não se manifesta por nenhum sinal exterior, é válido admitir-se que a vida orgânica reside em um princípio inerente à matéria, independente da vida espiritual que é inerente ao espírito. Ora, desde que a matéria tem uma vitalidade que independe do espírito, e que o espírito tem uma vitalidade que independe da matéria, torna-se evidente que essa dupla vitalidade resulta de dois princípios diferentes.
6. O princípio espiritual teria a sua origem no elemento cósmico universal? Seria ele apenas uma transformação, um modo de existência desse elemento, como a luz, a eletricidade, o calor, etc.? Se fosse assim, o princípio espiritual sofreria as vicissitudes da matéria, ele se extinguiria pela desagregação, como o princípio vital; o ser inteligente teria apenas uma existência momentânea como a do corpo, e, ao morrer, retornaria ao nada, ou, o que é equivalente, ao todo universal; isto seria, em uma palavra, a sanção das doutrinas materialistas.
As propriedades sui generis que se reconhecem no princípio espiritual provam que ele tem existência própria, independente, uma vez que, se a sua origem estivesse na matéria, ele não teria essas propriedades. Desde que a inteligência e o pensamento não podem ser atributos da matéria, chega-se à conclusão, partindo dos efeitos às causas, de que o elemento material e o elemento espiritual são os dois princípios que constituem o Universo. O elemento espiritual individualizado constitui os seres chamados espíritos, assim como o elemento material individualizado constitui os diversos corpos, orgânicos e inorgânicos, da natureza.
7. Admitindo-se o ser espiritual, e não podendo ele proceder da matéria, qual é a sua origem, o seu ponto de partida? Aqui, os meios de investigação são absolutamente ine xistentes, assim como em tudo o que diz respeito à origem das coisas.
O homem pode comprovar apenas o que existe, acerca de tudo o mais, ele só pode formular hipóteses; e, seja porque esse conhecimento ultrapasse o alcance da sua inteligência atual, seja porque, para ele, presentemente, é inútil ou inconveniente possuí-lo, Deus não lho deu nem mesmo através da revelação.
O que Deus lhe transmite por seus mensageiros, e o que, aliás, o próprio homem pode deduzir do princípio da soberana justiça, que é um dos atributos essenciais da Divindade, é que todos têm um mesmo ponto de partida; que todos são criados simples e ignorantes, com a mesma aptidão para progredir através da sua atividade individual; que todos atingirão o grau de perfeição compatível com a criatura pelos seus esforços pessoais; que todos, sendo filhos de um mesmo Pai, são objeto de uma solicitude igual; que não há nenhum mais favorecido ou melhor dotado que os outros, nem dispensado do trabalho que seria imposto aos demais para atingirem a meta.
8. Ao mesmo tempo que Deus criou, desde toda a eternidade, os mundos materiais, ele igualmente criou, desde toda a eternidade, seres espirituais: sem isso os mundos materiais não teriam fi nalidade. Seria mais fácil imaginarmos os seres espirituais sem os mundos materiais, do que estes últimos sem os seres espirituais. São os mundos materiais que deveriam fornecer aos seres espirituais os elementos de atividade para o desenvolvimento da sua inte ligência.
9. O progresso é a condição normal dos seres espirituais, e a perfeição relativa, o fi m que eles devem atingir. Ora, como Deus vem criando, incessantemente, desde toda a eternidade, também tem havido, desde toda a eternidade, seres que atingiram o ponto culminante da escala.
Antes que a Terra existisse, mundos haviam sucedido aos mundos, e, quando a Terra saiu do caos dos elementos, o espaço estava povoado de seres espirituais em todos os graus de adiantamento, desde os que nasceram para a vida até os que, desde toda a eternidade, haviam tomado o seu lugar entre os espíritos puros, vulgarmente chamados de anjos.
Bibliografia
Extratos bibliograficos de «A Génese» de Allan Kardec, coordenados por André (médium) para Epadis.