A vitória sobre a morte também se patenteia na alegria de superar-se o sofrimento largo e insuportável, sem qualquer hipótese de recuperação, quando a pessoa está devastada por enfermidades renitentes.
Diante da velhice, ante a inclemência dos fenómenos biológicos no seu desgaste ininterrupto, o cessar das turbulências da maquinaria física abre novas portas de realização e de crescimento espiritual e constitui a verdadeira dádiva da vida, a colheita de frutos sazonados, especialmente se o trânsito ocorreu em clima de dignidade e elevação.
O desgosto que toma posse daqueles que se viram “defraudados” pela perda de seres queridos, embora traduza afetividade e carinho, também guarda uma alta parcela de egoísmo retentivo, que somente pensa em si, não se dando conta do que representa para aquele que foi liberto dos laços que o retinham no carro celular, por vezes em sofrimento prolongado. Ante os seres limitados desde a infância em paralisias físicas e mentais angustiantes, a morte natural significa conquista de mérito que proporciona felicidade.
Passada a noite de aflição, rompe a madrugada de bênçãos, isso porque todos os conflitos e dores têm a sua origem nos atos transatos que o Espírito armazena em tributo que deve ressarcir em novas experiências evolutivas.
Joanna de Ângelis, na obra Em busca da Verdade, afirmou que “o encontro com a verdade liberta o ser da ignorância e integra-o totalmente na vida”, afastando-o do medo da morte e do aniquilamento, herança do período da caverna, que não era entendido pelo homem primitivo e que apenas via o outro decompor-se e não voltar mais ao convívio, dando lugar a superstições compatíveis com o baixo nível evolutivo e gerando no inconsciente profundo horror da ocorrência não compreendida.
Libertação pela morte
Joanna de Ângelis na obra Conflitos existenciais diz que “o corpo é, portanto, abençoada prisão temporária que retém o Espírito. A morte deve então ser cuidadosamente estudada e comentada em todas as oportunidades existenciais, a fim de que seja libertada dos artifícios que lhe foram colocados pela ignorância e pelas religiões do passado. Fazendo parte do processo normal da vida, não pode ser deixada à margem dos acontecimentos, como se merecesse consideração apenas quando se apresenta, arrebatando um ser querido ou anunciando-se como preparada para conduzir o próprio indivíduo. Educando-se o cidadão com vista ao seu triunfo em várias áreas, é necessário colocar-se também uma tomada de consciência em torno da morte, tendo em vista uma fatalidade da qual ninguém se livra. Preparando-se para morrer de maneira digna e natural, o ser humano altera completamente a paisagem social em que se encontra, por estabelecer condições para que o fenómeno transcorra sem choque, nem trauma, ante a certeza do reencontro que facultará o prosseguimento das afeições, a libertação das mágoas, a ampliação da capacidade de compreender e de desenvolver os valores espirituais que exornam a todos.”
Assim, muitos males podem ser evitados quando se estabelece um programa consciente para a morte, que faculta aquisição de recursos morais, capacitando o ser humano para a compreensão da jornada efémera em que se encontra e do prosseguimento da realidade que enfrentará após o despir dos trajes orgânicos.
Se a morte for mantida como um mito, sempre que se anuncia causa pânico, revolta, desequilíbrios, levando os seres a atitudes perversas de extravagâncias com as quais se pretende desfrutar dos últimos dias de vida ou até o suicídio. Livre do medo da morte, o cidadão avança com autoconfiança, sem qualquer limite porque o seu horizonte é o infinito.
Bibliografia
Divaldo Franco, pelo Espírito Joanna de Ângelis, in O Despertar do Espírito, Em busca da Verdade, O Homem Integral, Conflitos existenciais e No Limiar do Infinito. (fim)
Chico Xavier, pelo Espírito André Luíz, in Obreiros da Vida Eterna.
B.R. (CELAC – Lanhelas, outubro de 2018)