Introdução
Nestas ultimas semanas, com a aparição do coronavirus Covid-19 e os seus efeitos sanitarios, temos lido um grande numero de opiniões, relacionando, muitas delas, o aparecimento flagelador do virus e a responsabilidade de Deus, enquanto castigo para a Humanidade.
Atravéz destas opiniões sobressai a visão que ainda é professada, por quem acredita na existência de Deus e na sua acção enquanto criador ou fonte da vida. Não desconhecemos o facto de ainda haver quem veja Deus pelo prisma da antiguidade, em épocas em que o homem primevo se comportava como simples desavisado, desconhecedor da natureza à sua volta, incapaz de a descrever, sem poder imaginar o porquê da sua propria existência e como se encontrava, êle, no lugar onde tinha nascido, por extensão no planeta onde vivia.
Sabemos que a questão da existência ou não, de Deus, é defendida e apresentada diferentemente por uma parte dos homens, e negada pura e simplesmente por outros. Outra corrente, relativamente importante, pensa ser Jesus o proprio Deus, ou pelo menos exprime confusão sôbre essa questão.
Dai, e no decorrer da historia, muitas foram as posições que apareceram, tendo muitas delas os seus apologistas, pertencentes a correntes ditas deistas, e em oposição existiram outras conhecidas por ateistas.
Uma coisa é a existência ou não de Deus. Outra, são os atributos que lhe acordam, e as responsabilidades com que o carregam. Assisti ha alguns anos atraz a uma conversa entre dois amigos, sôbre esta matéria, dizia um para o outro : « Eu acredito numa força criadora superior, fonte de todas as coisas existentes, dos sêres e de todas as formas de vida, e todas existem para progredir ».
Esta bem, disse um para o outro que logo perguntou : Mas então quem é Deus ?
R – « Deus é a inteligência suprema, causa primaria de todas as coisas.»
P – Que se deve entender por infinito ?
R. « O que não tem começo nem fim ; o desconhecido. Tudo quanto é desconhecido é infinito. »
P – Poder-se-ia dizer que Deus é infinito .
R. « Definição incompleta ; pobreza de linguagem dos homens, insuficiente para definir o que esta acima de sua inteligência. Deus é infinito em suas perfeições, mas o infinito é uma abstração. Dizer Deus é infinito é tomar o atributo pela coisa mesma e definir uma coisa não conhecida por outra que não o é mais que a primeira.
Mas, havera provas de existência de Deus ?
P – Onde se pode encontrar a prova da existência de Deus ?
R. « Num axioma aplicado pelas ciências : Não ha efeito sem causa. Procure-sei a causa de tudo o que não seja obra do homem e, então, a razão respondera. » Para crer em Deus basta lançar os olhos sobre a obra da criação. Se o universo existe, tem uma causa. Duvidar da existência de Deus seria negar que todo efeito tem uma causa e avançar que o nada pode fazer alguma coisa.
P – Que podemos deduzir do sentimento intuitivo que todos os homens tem da existência de Deus ?
R. « Que Deus existe ; de onde, pois, viria tal sentimento, se repousasse no nada ? E ainda uma consequência do principio de que não ha efeito sem causa. »
P – O sentimento intimo que temos da existência de Deus não seria o fruto da educação e produto das ideias adquiridas ?
R. « Se assim fôsse, porque teriam os selvagens tal sentimento ? » Se o sentimento da existência de um ser supremo fôsse apenas produto do ensino, não seria universal e, como as noções de ciências, so existiria naqueles que o tivessem podido receber.
P – Poder-se-ia descobrir a causa primaria da formação das coisas nas propriedades intimas da matéria ?
R. «Mas então qual seria a causa dessas propriedades ? E sempre necessaria uma causa primeira. » Atribuir a formação primaria das coisas às propriedades intimas da matéria seria tomar o efeito pela causa, pois as mesmas propriedades são um efeito que deve ter uma causa.
P – Que pensar da opinião que atribui a formação primaria a uma fortuita combinação da matéria, ou por outra, ao acaso ?
R. « Outro absurdo ! Qual a criatura sensata que iria considerar o acaso como um ser inteligente ? E depois, que é o acaso ? Nada ! A harmonia que rege o mecanismo do universo revela combinações e designios determinados e, por isso mesmo, um poder inteligente. Atribuir ao acaso a formação primaria seria insensatez, pois o acaso é cego e não pode produzir efeitos da inteligência. Um acaso inteligente deixaria de ser acaso.
P – Onde, na causa primaria, se revela uma inteligência suprema e superior a todas as inteligências ?
R. « Existe um provérbio que diz : Pela obra se conhece o autor. Então ! Olha a obra e procura o autor. E o orgulho que gera a incredulidade. O orgulhoso nada quer acima de si e, por isso, considera-se alguém de forte. Pobre dêle que um sôpro de Deus pode abater ! »
Pelas obras julga-se o poder de uma inteligência. Como nenhum ser humano pode criara aquilo que a natureza produz, a causa primaria é, pois, uma inteligência superior à Humanidade. Sejam quais forem os prodigios realizados pela inteligência humana, esta mesma inteligência tem uma causa ; e, quanto maior é aquilo que ela realiza, tanto maior deve ser a causa primeira. Esta inteligência é que é a causa primeira de tôdas as coisas, seja qual fôr o nome que se lhe dê.
P – Pode o homem compreender a natureza intima das coisas ?
R. « Não ; para isso falta-lhe um sentido. »
P – Sera um dia dado ao homem compreender o mistério da Divindade ?
R. « Quando o seu espirito não mais estiver obscurecido pela matéria e quando, pela perfeição, se houver aproximado de Deus, vê-lo-à e o compreendera. » A inferioridade das faculdades do homem não lhe permite compreender a natureza intima de Deus. Na infância da Humanidade, muitas vêzes o homem o confunde com a criatura, cujas imperfeições lhe atribui ; mas, à medida que se lhe desenvolve o senso moral, seu pensamento penetra melhor o intimo das coisas, das quais êle faz uma idéia mais justa e mais conforme à boa razão, pôsto que sempre incompleta.
P – « Se não podemos compreender a natureza intima de Deus, podemos fazer uma idéia de algumas de suas perfeições ?
R. « Sim, de algumas. A medida que se eleva acima da matéria, o homem as compreende melhor : êle as entrevê pelo pensamento. »
P – Quando dizemos que Deus é eterno, infinito, imutavel, imaterial, ùnico, todo-poderoso, soberanamente justo e bom, não temos uma idéia completa de seus atributos ?
R. « Do ponto de vista humano sim, pois julgamos abranger tudo. Saibamos, entretanto, que ha coisas acima da inteligência do mais inteligente dos homens, para as quais a nossa linguagem, limitada às idéias e sensações, não possui expressões.
Realmente, a razão nos diz que Deus deve possuir suas perfeições em grau supremo, porque se tivesse uma delas a menos ou não fosse infinita, não seria superior a tudo e, por conseguinte, não seria Deus.
Para estar acima de todas as coisas Deus não esta sujeito a vicissitudes, nem pode ter qualquer imperfeição concebivel pela imaginação.»
Deus é eterno. Se tivesse tido principio teria saido do nada ou teria também sido criado por um ser anterior. Assim, passo a passo, remontamos ao infinito e à eternidade.
E imutavel. Se tivesse sujeito a mudanças, as leis que regem o universo não teriam estabilidade.
E imaterial. Isto é, sua natureza difere de tudo o que chamamos matéria ; do contrario não seria imutavel, pois estaria sujeito às transformações da matéria.
E unico. Se houvesse varios Deuses nem haveria unidade de vistas nem de poder na ordem do universo.
E todo poderoso. Porque é unico. Se não tivesse poder soberano algo haveria mais poderoso, ou tão poderoso quanto êle ; teria feito todas as coisas e as que não houvesse feito seriam obra de outyro Deus.
E soberanament justo e bom. A sabedoria providencial das leis divinas revela-se nas menores coisas, como nas maiores ; e esta sabedoria não permite duvidar nem de sua justiça, nem de sua bondade.
Bibliografia
O Livro dos Espiritos de Allan Kardec.
Artigo compilado por André – médium.