Sôbre os fenômenos em Fatima.
Muito se falou e escreveu sôbre os fenômenos de aparições observados na Cova da Iria (perto de Fatima) no ano de 1913.
Segundo informações narradas em jornais da época, após várias mensagens comunicadas por Espíritos em diversos grupos espiritas portugueses.
Na época uma forte perseguição, movida tanto pelas autoridades policiais, quanto por religiosos católicos, impôs aos espiritas o silêncio, a Lucia uma forma de prisão conventual obrigatória e uma campanha de livros escritos sensacionais mais uns que outros levando a uma interpretação errônea e dai à deturpação do que ali se passou.
Segundo o confrade Arnaldo Costeira, dirigente espirita idôneo : « Os tempos eram difíceis. A guerra era a grande preocupação de um povo amargurado e subjugado pelos ideais materialistas saídos do 5 de Outubro, Revolução Republicana. As igrejas regorgitavam e as orações repetiam-se por toda a parte. (Mais tarde dizia-se) : Que Deus trouxesse os soldados da Flandres. Que terminasse o seu martírio e o das famílias.
A ansiedade invadiu os grupos espiritas, a maioria actuando na clandestinidade, por virtude da perseguição religiosa… Muitas comunicações eram recebidas do além, uma de boa fonte, outras nem por isso.
A 7 de março de 1917, no Grupo de Carlos Calderon que reunia na capital, Lisboa surge a grande surpresa : « Não nos compete ser juízes. Aquele que vos julgara não ficaria satisfeito com juízos precipitados. Tende fé e esperai. Não é costume nosso predizer o futuro. Os arcanos do futuro são insondáveis, mas por vêzes Deus permite que se erga uma ponta do véu que o encobre. Assim, pois, tende confiança nas nossas prevenções. A data de 13 de Maio sera de grande alegria para os bons espiritas de todo o mundo. Tende fé e sede bons. » Assina Ergo sum Charitas.
« Sempre ao vosso lado tereis os vossos amigos que guiarão os vossos passos e vos auxiliarão na vossa tarefa. » Assina Ergo sum Charitas.
« A luz brilhante da Estrela Matutina vos alumiara vos alumiara o caminho. » Stella Matutina.
Esta mensagem psicografada pelo médium Carlos Calderon, surpreendeu o grupo porquanto ao serem os seus elementos confrontados com o escrito não conseguiram decifrar de imediato o seu conteúdo já que ela tinha sido escrita da direita para a esquerda, fazendo-o depois em contra-luz.
E como narra Filipe Furtado de Mendonça, testemunha do acontecido, em seu opúsculo « Um raio de luz sôbre Fatima », como a grande preocupação generalizada era a guerra, o grupo fez anunciar na imprensa da época a data de 1° de Maio como a do fim da guerra :
« Srs. Redactores :
Foi participado pelos Espíritos a diversos grupos espiritas, que no dia 13 do corrente há-de dar-se um facto, a respeito da guerra, que impressionara fortemente toda a gente.
Tenho a honra de me subscrever Espirita e dedicado propagandista da Verdade. Antonio. »
E Arnaldo Costeira asseverava : « É evidente que algo estava subjacente a estas noticias que contribuíram decisivamente para a projecção que os fenômenos da Cova da Iria tiveram, permitindo que em escassos seis meses o povo acorresse em massa ao local e não de forma alguma, por qualquer propaganda religiosa, fora de questão, pela perseguição movida desde o inicio a fenômenos catalogados como de bruxaria e pacto com o demônio. »
Vários jornais da época deram eco a essas noticias antes dos fenômenos, nomeadamente « O Primeiro de Janeiro » e « O Jornal do Comércio », entretanto desaparecido.
Os Factos.
Vamos agora ver como as coisas se passaram segundo Arnaldo Costeira : « O que aconteceu na Cova da Iria não foi mais do que o prenunciado nos diversos Centros Espiritas e que « deveria alegrar os bons espiritas de todo o mundo ».
Analisando o noticiado na época, três crianças de 10, 8 e 7 anos, quando pastoreavam no ermo conhecido como Cova da Iria, foram surpreendidas por uma luz brilhante pairando sobre uma azinheira, no meio da qual surgiu uma Senhora vestida de branco mais brilhante que o Sol.
Para quem quiser ser sincero, verifica que as reportagens da época assinalavam que das três crianças, a mais velha a Lucia, via, ouvia e falava com a Senhora. As duas outras, curiosamente, se completavam, porque uma só via e a outra só ouvia. Três « médiums diferentes » com duas mediunidades – vidência e audiência.
E porque fora de qualquer ligação com a Igreja Católica, passaram após os primeiros relatos, a ser consideradas mentirosas e a serem perseguidas não só pelos agentes materialistas do poder estatuído, regedores policiais, como principalmente pelas estruturas da Igreja que consideravam intervenção demoníaca e invencionice das crianças.
E não é desconhecido de ninguém que todos os mêses, quando se aproximava a data anunciada para nova visita da « Senhora da Azinheira », logo se multiplicavam as tentativas politico-religiosas para impedir continuação do que chamavam mentiras e invenções, em que ocorreu de tudo um pouco, incluindo sequestros, na tentativa de evitar que as crianças continuassem a protagonizar um fenômeno que se espalhava pelo país.
E que viria a juntar nesse lugar, em dia de temporal, 1 de Outubro, cerca de (60.000) sessenta mil pessoas, e inúmeros jornalistas que à época noticiaram esse dia extraordinário, em que o sol bailou à vista de todos que não resistiram ao espanto e ajoelharam-se em sinal de respeito e algum temor.
Os fenômenos mediúnicos.
Ouvimos já muitas mentiras acerca destes « fenômenos ». De facto a memória é curta e as pessoas desistem de pensar, embora muitas vezes sejam influenciadas por invencionices de conveniência.
Com o regresso de Lucia ao mundo espiritual depois de quase noventa anos de exclusão, veio o povo de novo à ribalta a ignorância de uns, a má fé de outros e o silêncio de alguns.
De facto deveriam ser objecto de analise algumas reflexões que importa colocar :
1°. Por que razão a Igreja Católica recusou a veracidade dos fenômenos, perseguiu as crianças, pressionou as famílias e forçou a entrada da pequenita sobrevivente, Lucia, para um Colégio de Freiras, na região do Porto, tendo o então Bispo de Leiria imposto à criança o silêncio sobre o ocorrido, proibindo-a de dizer quem era, de onde vinha e de falar no que dizia ter visto ?
2°. Por que razão a criança foi levada para uma instituição conventual para Espanha ?
3°. Por que razão a perseguição aos fenômenos durou até 30 de Maio de 1930, data em que o Bispo de Leiria declarou que afinal os factos eram dignos de crédito ?
4°. Por que razão só depois dessa data, provavelmente 1932, é que foi noticiada a existência de três segredos de Fatima e divulgado o seu hipotético conteúdo ?
5°. Por que razão a « Senhora da Azinheira », foi transformada em Maria, mãe de Jesus, após esse período ?
6°. Por que razão a « Senhora da Azinheira », que depois seria a mãe de Jesus, haveria de prenunciar a conversão da Russia, se a Russia era um pais católico e somente em 17 de Outubro de 1917, já depois da ultima aparição, se tornaria comunista ?
7°. Por que razão a Senhora anunciaria a perseguição religiosa à Igreja se em realidade desde a ditadura sidonista, instalada em Portugal em 1917, jamais ela foi perseguida, antes marchou sempre lado a lado com a política, influenciando-a, comandando-a indirectamente até hoje, quando nenhum partido do espectro politico ousa afrontá-la ?
8°. Por que se diz hoje que afinal o senhor Bispo de Leiria apenas aconselhou Lúcia a não falar, quando foi enclausurada em criança, para sua defesa, quando durante os fenômenos se sentia livre como um passarinho e o pior que lhe poderia ter acontecido era ter sido ouvida em liberdade e ter podido revelar os avisos da Senhora, que alertava o mundo para a necessidade de mudança moral e espiritual ?
Sem duvida que se alguém se demitiu na época foram os espiritas que não tiveram a coragem de vir a terreiro não só explicar os fenômenos que haviam sido anunciados como devendo alegrar os bons espiritas de todo o mundo, como agir junto do povo para que a revelação espirita não parasse e cimentasse na realidade fenomênica ocorrida na Cova da Iria. Ou… o tal segredo, as perseguições, seriam mesmo aos espiritas, tal foi a pressão policial e religiosa desencadeada então ?
Acreditamos, adianta Arnaldo Costeira, que essa violência física e psicológica terá feito esquecer o que profusamente anunciaram na imprensa então.
Os espiritas não temos nada a ver com Fatima que essa sim foi uma manipulação profunda da Igreja, tomando para si o fenômeno e transformando-o em milagre de conveniência, permitindo que uns acreditassem e outros não, alguns chegando mesmo a chacotear como fenômeno.
Os Espiritas temos tudo a ver com os fenômenos mediúnicos de Vidência, audiência e efeitos físicos ocorridos na Cova da Iria nesses distantes 13.
Em tempo de regresso à pátria espiritual de Lucia, compete-nos lamentar o pesado Karma que lhe foi imposto pela ignorância mesclada de cegueira espiritual e de maldade de religiosos e políticos fanáticos que não foram à época capazes de convive rem liberdade com a religiosidade dos humildes, crentes nas manifestações espirituais e que respondiam ao chamado do mundo espiritual ao desenvolvimento de uma f sincera que superasse as dores que viviam fruto da guerra e das dificuldades que varriam o pais, marcado por uma instabilidade política e um futuro sem esperança.
Foram décadas sobre décadas em que se insistiu en tornar inexplicável aquilo que era simples, contribuindo para que nos dias de hoje, fruto de um obscurantismo lamentável e, como avisou a « Senhora da Azinheira », da perseguição incompreensível aos Espiritas e ao Espiritismo, continuam em busca das comunicações do além, lamentavelmente e o mais das vezes em locais e com pessoas pouco credíveis e de conduta comercial reprovável.
Estamos todavia, convictos, diz o irmão Arnaldo Costeira, que o futuro se encarregara de libertar a Igreja não só do fanatismo religiosos muito pouco tolerante, fazendo ver os responsáveis que a realidade do além não é mais uma encruzilhada teological em que só alguns aprendem a beleza da imortalidade que constitui a BOA NOVA DE JESUS, as boas noticias que Ele nos trouxe e tão bem esclarecidas no SERMÃO DA MONTANHA e na afirmação de que o Seu Reino, de Amor e Paz, não era deste mundo, mas do Mundo Espiritual, para onde iria preparar-nos o lugar.
Estamos certos que ao abrirem-se os livros da Ciência, que afirmam sem peias que « já existimos antes, e que ha vida inteligente nas « fronteiras da vida ». Então o Além passara a ser o prolongamento da vida e tudo se esclarecera com racionalidade, a criminalidade contra a vida, em qualquer situação, sera vencida pela razão e o homem reencontrara o endereço de Deus, colocando ordem, vigilância e modificação na sua vida, contribuindo para o apaziguar da Natureza e para a implantação do reino onde os mansos, os pacíficos, os simples, os humildes, os puros de coração, os aflitos, os que choram, se sentirão no Céu da Paz, da Concordia e do Amor plenos.
Por isso urge que um trabalho intenso de amor e esclarecimento de todos os espiritas, os cristãos da Nova Era, que devem fazer reviver o Cristianismo em sua pureza e projecção, afrontando ventos e marés de qualquer ordem, para não deixarmos fugir as oportunidades de provarmos as nossas convicções e de servirmos a Seara do Mestre conforme nos comprometemos.
E preciso agir e deixar de perder tempo em análises baloifas que a nada conduzem.
E preciso fazer algo por todos nos, fazendo-o pela Humanidade sofredora que não pode esperar bons tempos sem que proceda a uma radical mudança de sentimentos e de pensamentos. O que implica compreendamos bem a mensagem de Jesus.
Não podemos ficar à espera que as pessoas entrem portas adentro das Casas Espiritas, se quiserem, já que elas estão abertas.
Temos que sair anunciar a Boa Nova, com espirito de iniciativa, com convicção e com um permanente sorriso nos lábios, demonstrando, pelo amor que irradiamos uns pelos outros, e pelo conhecimento da Verdade que liberta, que somos discípulos do Mestre e espiritas conscientes.
E um desafio que cada vez mais se no põe. Tomemo-lo em mãos e avancemos sem hesitar.
Em conclusão.
Arnaldo Costeira, apresenta-nos com todo o seu conhecimento, a sua prática e rigôr, e, as suas convicções espiritas, os acontecimentos que se produziram em Fatima em 1913 e 1917. Comunhamos com ele : Primeiro, na procura da verdade. Segundo, nas consequências, nas responsabilidades de uns e outros, sabendo que a lei da reencarnação não deixa para traz nada, nem ninguém, e um dia, nesse belo dia, tudo se esclarecera.
A historia dos homens e dos povos que compõem a sociedade dos Espíritos encarnados mostra, ao longo de gerações sucessivas, uma série de fenômenos e de acontecimentos, cujos fins são de permitir o avanço, intelectual, moral e espiritual, em cada época.
Em cada época, devemos pois, estar atentos ao que se passa e em função dos acontecimentos e fenômenos examinados, tentar extrair deles a sua utilidade para a humanidade, procurando reforçar no homem os seus conhecimentos e as suas virtudes.
E para isto que servem os fenômenos, como os que se produziram na Cova da Iria e que tristement foram totalmente vilipendiados por aqueles que até se deveriam sentir reforçados na fé en na doutrina que diziam representar. Mas tal não foi o caso e é de lamentar !
Tentemos hoje, depois de 98 anos passados, analisar, compreender e, tanto quanto possível, retemperados na virtude do amor que deve estar presente em tudo quanto fazemos, perdoar e deixar a lei suprema encarregar-se do que é essencial e decisivo para a sociedade dos Espíritos actualmente encarnados.
Praticamente todos nos aqui presentes sofremos as consequências dos acontecimentos assunagados e das aldabrices inventadas na tentativa impossível de pôr um travão ao nascer e levantar do sol do progresso e da boa nova despontando, tal como Jesus o havia prometido : « E acontecera nos últimos dias, diz o Senhor, que eu derramarei do meu Espirito sôbre toda a carne ; e profetizarão vossos filhos, e vossas filhas, e vossos mancebos terão visões e os vossos anciãos terão sonhos. E certamente naqueles dias derramarei do meu Espirito sôbre os meus servos e sôbre as minhas servas e profetizarão. » (Actos, II : 17 e 18).
Como tantos outros acontecimentos que se produziram nos mais diversos países, os da Cova da Iria de 1913 e 1917, fazem parte desta profecia e promessa feita por Jesus, afim que nos esclarecêssemos e elevássemos, espiritualizando-nos, através da mediunidade, isto é no contacto com a humanidade dos Espíritos desencarnados, em cujas relações se deveriam e continuarão a reforçar a nossa fé, a nossa compreensão da vida, da morte e da imortalidade.
Também devemos saber e compreender que estes fenômenos, nada tem de misteriosos, nem de milagrosos, tudo quanto se passou na Cova da Iria foi muito natural. O Espirito feminino que ali se mostrou só foi possível através da sua materialização ou seja na manifestação perceptível daquele Espirito. A materialização é um fenômeno natural muito conhecido na actualidade, pesquisado e conhecido por cientistas eminentes em diversos países.
Este artigo está baseado no trabalho do coronel Arnaldo Costeira, militante e dirigente espirita idôneo, « Fatima e o Espiritismo », sôbre os fenômenos que se produziram na Cova da Iria – Fatima, em 1913.