O Homem e a domesticação dos animais.

« O Homem, desde os seus primórdios, sempre teve uma estreita relação com o mundo animal, relação ligada sobretudo à sua própria subsistência e sobrevivência. Os animais sempre foram elementos integrantes do meio ambiente que os rodeava, não sendo portanto de estranhar que as primeiras representações artísticas sejam da fauna existente.

Existia uma multiplicidade de estilo e suporte para estas figuras, sendo as mais comuns as gravadas em pedra (as chamadas gravuras rupestres), ou pintadas no interior de grutas e abrigos, recorrendo a pigmentos retirados de plantas e minerais como o ocre.

Os animais mais representados são auroques (uma espécie de bovídeos já extintos), cavalos, cabras montanhesas, veados e peixes cujas espécies não foram passíveis de identificação. Os desenhos rupestres encontram muitas vezes sobrepostos e estendem-se por dezenas de metros ao longo dos rios. Pensa-se que estes locais se tratariam de santuários ao ar livre, onde o Homem primitivo idolatrava os seus deuses e a Natureza que o rodeava, daí a recorrência destes espaços ao longo dos séculos para a gravação de figuras.

Esta relação estreita entre o Homem Pré-Histórico e os animais deve-se sobretudo ao impacto que estes tinham na vida das comunidades, grandemente dependentes da caça. Muitos destes espaços ainda existem e podem ser visitados em Portugal.

Exemplo disso é Parque Arqueológico do Vale do Côa ou a Gruta do Escoural em Montemor-o-Novo. Foi também neste período (Paleolítico) que o cão foi domesticado, acompanhando o Homem na caça e mais tarde como ajuda para controlar o gado.

Contudo ao longo dos milénios que marcaram a evolução do Homem esta relação também se modificou. Se inicialmente este caçava e recolhia os alimentos, com as mudanças climatéricas ocorridas, aumento de população e com a sua própria evolução cultural, os animais passaram a coabitar com o ser humano dando-se início ao processo de domesticação dos mesmos.

Este processo ocorreu há cerca de 9 mil anos a.C. (Neolítico), no Próximo Oriente, quando as bases económicas se transformaram gradualmente, passando a existir agricultura e pastorícia e consequentemente uma sedentarização do Homem, até aqui nómada. Segundo vestígios arqueológicos, o primeiro animal a ter sido domesticado foi a ovelha, ideal pela quantidade de recursos que disponibilizava – carne, lã, couro e leite.

Bovídeos, equídeos, suínos e caprinos foram domesticados um pouco mais tarde por servirem de força de trabalho, meio de transporte e fonte de matéria-prima.

As aves, assim como os gatos tornaram-se animais domésticos inicialmente no Egipto. O gato pela sua capacidade de manter os celeiros limpos de pragas e pelo culto religioso que lhe era prestado e as aves pelo seu canto e estética, tornando-se um animal ornamental. Ao longo dos séculos estas relações intensificaram-se dando origem ao animal de companhia nas mais variadas espécies desde anfíbios, repteis até ao comum cão e gato ».

Como declararam Murphey e Ruiz –Miranda em 1998 *), «… a domesticação é uma das maiores realizações da humanidade. No entanto o contexto historico de domesticação, as reacções emocionais dos animais em relação ao homem, como a tendência de fuga ou de agressão, provavelmente desempenharam importante papel na definição da espécie, apos multiplas e longas observações, escolhida para ser domesticada ».

 


 

Bibliografia

 

Este artigo foi publicado na Edição nº12 da Revista « Mundo dos Animais », em Agosto de 2009, com o título “A presença dos animais na história do homem ».

* Os acrescentos, titulo e frase final, são da responsabilidade da redacção de Epadis.

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