O acto mediunico.

Se todo o processo mediunico assenta nas possibilidades perispiriticas, não é menos certo que a função do psicossoma varia de acordo com o tipo de fenomeno. Assim, se no desdobramento o perispirito se desprende e se desloca – ainda que guardando ligação com o corpo fisico -, na materialisação e nos demais fenomenos de efeitos fisicos, faculta a liberação do ectoplasma responsavel pelos varios tipos de ocorrência.

Da mesma forma, nas manifestações de natureza intelectual, em que a acção perispiritica sustenta e define o fenomeno, como, por exemplo, ocorre na psicofonia e na psicografia, processos mediunicos são peculiarmente acaracterizados por um estreito contacto perispirito a perispirito, que, também, pode, chegar a um estado de verdadeira « interpenetração psiquica », como aventa Herculano Pires, em magnifica descrição :

« O acto mediunico é o momento em que o espirito comunicante e o médium se fundem na unidade psico-afetiva da comunicação. O espirito aproxima-se do médium e o envolve nas suas vibrações espirituais. Essas vibrações irradiam-se do seu corpo espiritual (1) atingindo o corpo espiritual do médium.

A esse toque vibratorio, semelhante ao de um brando choque eléctrico, reage o perispirito do médium. Realiza-se a fusão fluidica. Ha uma simultânea alteração no psiquismo de ambos. Cada um assimila um pouco do outro. Uma percepção visual desse momento comove o vidente que tem a ventura de capta-la. As irradiações perispirituais projetam sobre o rosto do médium a mascara transparente do espirito.

Compreende-se então o sentido profundo da palavra intermùundio. Ali estão, fundidos e ao mesmo tempo distintos, o semblante radiosos do espirito e o semblante humano do médium. Essa superposição de planos da aos videntes a impressão de que o espirito comunicante se incorpora no médium. Dai a erronea denominação de incorporação para as manifestações orais.

O que se da não é uma incorporação, mas uma interpenetração psiquica, como a da luz atravessando uma vidraça. Ligados os centros vitais de ambos, o espirito se manifesta emocionado, reintegrando-se nas sensações da vida terrena, sem sentir o peso da carne.

O médium, por sua vez, experimenta a leveza do espirito, sem perder a consciência de sua natureza carnal, e fala ao sopro do espirito, como um intérprete que não se da ao trabalho da tradução ». (2) Ja na vidência e na audiência é a expansibilidade do perispirito que torna possivel a captação de impressões visuais e auditivas oriundas do plano espiritual, a repercutirem, por acção dos centros perispiriticos superiores, nas vias nervosas especializadas. « Provocando o estado de semidesprendimento », lembra Léon Denis, o Espirito « faculta ao sensitivo a visão espiritual », que, alias, independe do « sentido fisico da vista », uma vez que é comum « o médium ver com os olhos fechados ».

 

Transe

 

Como se vê, seja qual for, enfim, o tipo de evento medianimico, o perispirito, com suas multiplas propriedades e funções, é sempre o factor fundamental. Com relação ao transe – capitulo dos mais importantes em Espiritismo, Parapsicologia, Psicobiofisica, Neurofisiologia, Psicologia, Psiquiatria e outras importantes areas do Conhecimento -, impõe-se, desde logo, considerar que são diversos, também, os tipos de ocorrência.

Guardadas as diferenças de enfoque, por parte dos autores que se debruçam sobre o tema, é licito admitir que o transe (estado especial de consciência que se situa entre a vigilia e o sono natural) pode apresentar-se como patologico, hipnotico, farmacogeno, animico, noctipico e mediunico. (3)

O transe patologico, a constituir categoria especial e refletindo disfunções neurofisiologicas de certa gravidade, é gerado por diversos factores. « O caso mais elementar ocorre no chamado estado crepuscular dos epiléticos e histéricos », observa o médico e escritor paulista, Ary Lex, anotando :

« O individuo tem a crise convulsiva e depois fica longo tempo como que « abobado » ou ‘desligado », falando coisas sem nexo, sem noção de espaço e tempo. Em certas eplipsias, o paciente fica sem exercer totalmente o contrôle de seus actos, e, automaticamente, se põe a andar e vai acordar, às vezes, a quilometros de distância de sua casa. Este tipo de transe também ocorre nos delirios febris, nos estados de coma, nas lesões traumaticas do cérebro ».

 

 


 

Bibliografia

 

(1) – (O périspirito é uma vestimenta peréne e indestructivel que sobrevive à morte e se modifica segundo a evolução dos individuos)

(2) – José Herculano Pires. Mediunidade. 2 ed. São Paulo : Paideia, 1992, cap. V, pag. 37.

Nota da Rdlr. : Algumas palavras foram transcritas na versão linguistica anterior ao acordo luso-brasileiro sobre a lingua comum, sem alterar o sentido da idéia do autor.

(3) – O transe pode ser caracterizado como um estado de alteração consciencial (abrandamento ou apagamento provisorio do consciente vigil)…

Nota : Este artigo foi preparado pela redacção da Epadis a partir extratos do livro « Perispirito » de Zalmino Zimmermann, pag. 329, 331, 332, 333, 334.