“Ser feliz é encontrar força no perdão, esperanças nas batalhas, segurança no palco do medo, amor nos desencontros. É agradecer a Deus a cada minuto pelo milagre da vida.” ― Fernando Pessoa
Para os espíritas habituados a ouvir falar de provas e vivendo eles-próprios as suas provas, nada lhes é estranho que todos nós, Espíritos reencarnados, tenhamos as nossa provas, mais ou menos intensas sobretudo quando se leva em conta o grau de aperfeiçoamento médio, próprio à sociedade dos Espíritos que constituem a sociedade terrestre.
A questão relativa às provas tem sido um dos problemas e enigmas que mais tem interrogado os homens e fascinado as mais diversas sociedades ao longo da historia da humanidade. Desde os tempos mais remotos até a encarnação de Jesus, quando este iniciou o seu ensino sôbre o « Reino de meu Pai que esta nos céus », é que o véu da vida e do mundo espiritual, da imortalidade e da reencarnação, se foi levantando.
Não fosse Jesus a instruir Nicodemos dizendo-lhe : « Na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus » e neste conciabulo, Nicodemos pergunta : « Como pode um homem nascer, sendo velho ? Pode, porventura, tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer? » Então, o Mestre responde-lhe: Na verdade te digo que aquele que não nascer da agua e do Espirito, não pode entrar no Reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do espirito é espirito. » (João 3 :1-6)
Como podemos notar a clareza de Jesus é tal que não deixa lugar para duvida. Allan Kardec a este respeito declara no Evangelho Segundo o Espiritismo : « Sem o principio da preexistência da alma e da pluralidade das existências, a maioria das maximas do Evangelho são ininteligíveis, razão pela qual deram origem a tantas interpretações contraditórias. Esse principio é a chave que lhes restituirá o verdadeiro sentido. (Allan Kardec, ESE, cap. 4, item 17.)
Não querendo deixar duvidas, Jesus insiste na distinção « o que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é Espírito », ora esta indicação é de uma clareza tal que se conclui, que « só o corpo procede do corpo e que o Espirito independe deste. » (Allan Kardec, ESE, cap. 4, item 8.)
A propósito desta tão relevante questão, lemos em « Máximas de luz » e passamos a citar o escrito por inteiro (1): « Os que vestiram a túnica da carne passam por provas e expiações, por vêzes duras, mas nem todas são iguais para todos; os fardos e os jugos são desiguais, porque as necessidades de cada um são diferentes, rumo ao seu equilíbrio.
Muitos perguntam se é licito tirar as provas de quem sofre, aliviando o peso das expiações. Certamente que pessoa alguma tem o poder de retirar o carma daquele que passa pelas provas, no entanto, podemos apontar um dos maiores exemplos de solidariedade na trajetória de Jesus: quando Ele, o Mestre, subia para o Calvário, um cireneu o ajudou a carregar a Sua cruz, mas, prestemos bem atenção, ajudou e não tirou a cruz dos caminhos do Divino Pastor. Renovando as Suas forças, Jesus recebeu de novo o pesado madeiro, para que pudesse chegar ao topo do Calvário.
O que podemos fazer com os que sofrem é ajudar, pela força do amor, a carregarem a sua cruz, aliviando seus padecimentos, mas não tirar, definitivamente, seus sofrimentos; não temos esse poder, e a ajuda maior é aquela que educa e instruiu as criaturas, no sentido de amar o próximo como a si mesmas, e a Deus sobre todas as coisas.
Somente o sofredor tem o poder de curar a si mesmo, reformando seu modo de vida, pela educação e pela disciplina, sem esquecer o perdão, que granjeia amigos; a fraternidade, que ilumina o coração, a fé, que transporta montanhas de imperfeições, o trabalho, que coopera com o progresso, que faz a caridade, que nos salva dos ataques das trevas, e do amor que acende sois e estrelas no mundo intimo.
Não podemos afastar dos caminhos dos companheiros as suas experiências, ajuda-los a trilha-los com mais facilidade e esperança. A experimentação é individual; cada um é obrigado a trabalhar na auto-educação, assim como na disciplina, conquistando a sua felicidade pelas provas e expiações, que são meios que Deus criou para o aprendizado de todas as criaturas. E para melhor desempenho, devemos passar as provas e expiações com paciência, com compreensão e mesmo com alegria, amando cada vez mais a Deus, que espera o filho com o prêmio da paz.
A maior ajuda, capaz de aliviar as provas para a alma, é a de Jesus Cristo, que elevando-se para as esferas de luz, deixou como herança sublimada, o Evangelho. Quem aprender os conceitos desse livro divino, e se esforçar para vivê-los, começara a aliviar e mesmo a curar todos os seus desequilíbrios. Muitas filosofias dizem que Jesus subiu e levou todas as nossas enfermidades dão falsa interpretação dos evangelhos.
Ele, o Mestre, passou para as regiões divinas e deixou, para todos os planos inferiores ao seu, todas as lições, para que a humanidade aprendesse e, por ela mesma, se auto-conquistasse durante as investidas das trevas, libertando-se de todas as inferioridades, por conhecer a verdade. Esses transes são individuais, de cada ser, porque os ensinamentos são de acordo com as necessidades do Espirito.
Somos sempre, na Terra, remissos, e ao encontrarmos Jesus, aceleramos o trabalho de conquista dos valores que nos levam à libertação alcançando, com o tempo, a felicidade. As provas e expiações são cursos por que devemos passar, qual o aluno para receber o diploma. Como tirar dos nossos caminhos o que nos traz a sabedoria, e mesmo o amor? Não sejamos descuidados no tocante ao aprendizado, aceleremos com o esforço proprio a nossa educação, conquistando todos os valores que conduzem à tranquilidade de consciência, que o coração exulta de alegria, na alegria de Deus.
Disse Jesus : « Bem-aventurados os aflitos, que serão consolados », porque suportando com paciência as provas e expiações, certamente que surgirão aflições; no entanto, suportando até ao fim com esperança em Deus, chegarão à bem-aventurança, por terem aprendido as lições de luz do amor. Assim, compreendemos que não devemos pensa rem tirar por definitivo as provas do nosso irmão, porque elas trazem grandes benefícios para seus caminhos, mas a misericórdia de Deus é tamanha, que podemos aliviar os sofrimentos, quando entendemos como fazer.
Conclusão.
Como vêmos as palavras de Miramez, são de grande humildade à qual se junta a clareza de um Espírito com a sabedoria e conhecimento das questões relativas aos destinos dos homens e ao sofrimento que lhes esta ligado. Provas e expiações, diz: « são cursos por que devemos passar, qual o aluno para receber o diploma. » Como entender de outra forma a justiça e a sabedoria suprema que esta subjacente e que confirma a Lei de Progresso, da qual nos fala Allan Kardec, citamos: « Nascer, Viver, Morrer, Renascer et progredir sempre, Tal é a Lei. »
E na horas amargas em que as investidas das trevas nos assediam, que nos devemos mostrar à altura, na capacidade de lhes resistir e nada temer. Para tal devemos preparar o combate que a todo o momento nos pode ser imposto, sabendo por experiência que quando pretendemos sair da ignorância e atingir o conhecimento das coisas, inumeráveis raízes nos prendem ao passado e tentam anular os nossos esforços.
Também sabemos que aqueles que nos acompanharam no sôno milenar, logo que se apercebem das nossas mudanças e tentâmes para fugirmos à sonolência comum, reagem em tentativas e investidas de impedimento, delicerações e se lhes der-mos oportunidade tudo farão para nos obscurecerem o pensamento clarificador e tentarão dominar e obsidiar-nos. Eis porque a nossa consciencialização é num grande numero de casos acompanhada de perturbações e desequilíbrios. Aqui reside o combate, a necessidade de resistência, enfrentando tentações e desvios, para que sômos empurrados ou atraídos.
As doenças, com seu cortejo de dôres e sofrimentos diversos, incidindo sôbre a pessoa, podem ser motivos de desfalecimento e fraqueza, até mesmo de descrença, nos princípios morais que norteiam nossas existências actuais, dai a necessidade de reflexão e de grande firmeza nos princípios da Doutrina Moral Espirita que tão grandes benefícios nos trouxe, enquanto expressão da Caridade e do Amor de Deus e dos seus cooperadores espirituais a todos os níveis, para nos auxiliarem na caminhada libertadora em direcção da emancipação espiritual, para a qual estamos destinados.
A felicidade, é desejo e procura que todos solicitamos, natural opção, mas no quadro actual de nossas existências e do nível evolutivo da vida em sociedade, não sera fácil adquiri-la, sobretudo porque é nos bens materiais que a grande maioria de nos procura obtê-la. Citado no Evangelho Segundo o Espiritismo, Fenelon, Espirito bondoso, numa de suas mensagens « Os tormentos voluntários » diz: « O homem procura incessantemente a felicidade que lhe escapa sem cesso, porque esta sem mistura não existe na terra. No entanto, malgrado as vicissitudes que dão forma ao cortejo inevitável desta vida, poderia pelo menos usufruir de uma felicidade relativa, mas como a procura nas coisas perecíveis e submetidas às mesmas vicissitudes, isto é no usufruto de benefícios materiais, em vez de o procurar nas virtudes da alma que antecedem os prazeres celestes imperdíveis… »
E concluindo a sua mensagem: « Quantos tormentos, ao contrário, economiza aquele que sabe contentar-se do que tem, que olha sem desejo o que não tem, que não procura fingir o que não é. Sente-se sempre rico, porque ao olhar abaixo de si, em vez de olhar para cima, vera sempre pessoas que são menos aquinhoadas que êle; é alguém calmo, porque não procura as coisas quiméricas, e a sua calma no meio das tempestades da vida, não constituem uma felicidade? »
Esta argumentação de bom senso, vem a propósito da moderação com que devemos usufruir e utilizar os bens materiais que a vida põe à nossa disposição, e dentro do quadro da subsistência que nos é necessária, sem abuso, nem gula, procuremos solucionar o problema milenar que arrastamos connosco, compreendendo a absoluta necessidade, em nossa vida das provas e das expiações.
Bibliografia
(1) « Máximas de Luz » é uma obra do médium brasileiro, João Nunes Maia, ditada por Miramez (Espirito), cap. V, item 27, pag. 64, 65, 66).
(2) O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. 5, pag. 103 e 104, item 23. Les Editions Philman, mars 2008. Em francês (Traducção da Epadis).