Ilusão e realidade.
Cada indivíduo é um microcosmo, parcialmente ciente de si mesmo ; um complexo de forças inconscientes a ser descobertas. Demóstenes, um dos mais célebres oradores atenienses, dizia : « E extremamente fácil enganar a si mesmo ; pois o homem geralmente acredita no que deseja ».
O ser vê as coisas e o mundo tal como ele é. Quando se vive em equilíbrio interior, até mesmo nos factos e ocorrências que aparentam enormes desajustes se pode encontrar uma harmonia oculta. A medida que nos transformamos, vamos mudando nossa visão da Criação e das criaturas. O termo « Samsara », nas diversas religiões orientalistas, tem como significado o « mundo das ilusões ». Elas afirmam que a maioria dos seres humanos vivem neste universo fictício, razão pela qual estão presos ao circulo dos renascimentos, e que todo sofrimento provém de não sabermos distinguir a ilusão da realidade.
O orgulho é a inquietação de viver para uma imagem efêmera e egocêntrica. Alimentar a aparência requer vive rem função da imaginação que se faz de si mesmo e das pessoas. A busca existencial dos orgulhosos não repousa nas experiências de « ser » e, sim, nas expectativas de « ter » ou de agradar aos outros.
A fascinação está intimamente ligada ao orgulho e ambos têm como raízes a necessidade de triunfar a qualquer preço, uma arrogância competitiva, subprodutos de um complexo de inferioridade ou baixa estima.
Os « olhos do fascinado » trazem gravados, em sua retina espiritual, clichês psíquicos – desta ou de outras vidas – de imagens idealizadas de onipotência.
Por exemplo, na infância pode ter sido uma criança elogiada em demasia ou supervalorizada pelos familiares e amigos. Dai desenvolveu uma convicção de supremacia e orgulho, uma tendência adquirida de que nada existe que ele não faça bem e de que não ha ninguém que faça melhor que ele.
Esse indivíduo acredita não ter duvidas (conscientemente), se julga um doador benemérito, uma pessoa admirável, possuidora de qualidades extraordinárias. Tudo isso pode até conter uma partícula de verdade, mas esse excesso de admiração e elogios que recebeu quando criança pode ser a chave para que possamos compreender melhor suas atitudes de auto-ilusão. Não é que ele não queira ver, esta momentâneamente impossibilitado de enxergar a realidade. Alias, só podemos modificar aquilo que conseguimos ou queremos ver. Ha casos de auto-ilusão em que não se pode afirmar, de forma categórica, que o fascinado « se obstina em conservar seu mal e nele se compraz », de propósito, ou mesmo que ele negue o facto real, por ser teimoso ou turrão. O fascinado não consegue « descerrar os olhos », porque vive subjugado pela irrealidade do seu ego tacanho, individualista e míope.
Em muitos ocasiões, recusar a verdade ou não se permitir reconhecer a realidade se prende a um mecanismo de defesa inconsciente usado para bloquear a consciência às coisas que ameaçam os valores mais íntimos do indivíduo. Neste caso, sempre que ele perceber que seu fictício prestigio ou sua auto-estima inadequada estiverem sendo ameaçados, acionara inconscientemente seu sistema ilusório, para proteger-se. Sua técnica de defesa será: « estou sempre certo ».
Haverá um esforço enorme para resguardar sus suposta superioridade. Em muitas circunstâncias, pensamos que a mascara que utilizamos é a nossa verdadeira essência.
Forçá-lo ou obrigá-lo a enxergar a realidade negada pode ser uma medida precipitada e perigosa. Importante lembrar que, conforme o Livro do Eclesiastes, « Há um momento para tudo e um tempo para todo propósito debaixo do céu… tempo de plantar e um tempo de arrancar a planta ».
Ele confere a seu trabalho mediúnico e a seus objectivos brilhantes qualidades. Não suporta sugestões, observações ou qualquer questionamento sobre si mesmo ou de suas obras. Quando lisonjeado, presta favores e retribui a devoção recebida, mas nunca admite ser seriamente contestado.
Ilusão, fascinação, subjugação.
A fascinação é uma forma de auto-engano. E uma atracção dominadora que esconde sob um manto opaco e invisível nossa visão clara e critica dos valores naturais que regem nossa existência de Espíritos imortais. Nossos pontos fracos nos tornam vulneráveis à ascendência dos Espíritos ignorantes. O obsessor não causa a fascinação. Apenas se aproveita dos núcleos mal elaborados da psique humana, agravando o desajuste ja ali instalado. Nos é quem abrimos a aura, permitindo a intromissão de elementos negativos, que manipulam e dominam nossas energias.
Quando um médium inicia seu processo de auto-conhecimento, desperta e vê o que ele é realmente em sua natureza profunda e sente que, para convive rem harmonia, necessita perceber de forma lúcida como funciona a « instrumentalidade psíquica » entre a vida consciente e a inconsciente.
Os indivíduos que procuram criar e manter uma imagem de falso prestígio se tornam alvo de assédio não só dos Espíritos desencarnados como de todos os encarnados que estão em seu redor.
Para nos desfazermos da fascinação ou da auto-ilusão seria preciso apenas nos desvencilharmos da escravidão da ideia pressuposta que temos ou desejamos ter acerca de nos mesmos. Quando abandonarmos nossa identidade real, tentando constituir como eixo central de nosso cotidiano uma imagem distorcida e fantasiosa, viveremos inadaptados socialmente e com um série de transtornos psíquicos.
Seria muito simples ser aquilo que somos, tomar posse de nossos verdadeiros dos divinos, evitando desse modo todo sofrimento e esforço para aparentarmos aquilo que não somos.
Não nos esqueçamos, porém, que a sabedoria vem da prática, ou seja, quanto mais experiências, mais discernimento e bom senso possuiremos. « … Como não há pior cego do que aquele que não quer ver… », é bom recordar que não podemos modificar as pessoas, mas apenas oferecer-lhes mãos amigas, propor-lhes os ensinos da Boa Nova, compartilhando estudos, orações, experiências e compreensão.
Aprendendo a ser pacientes com nossas dificuldades, aprenderemos, do mesmo modo, a ser tolerantes com as dos outros. Somente tomaremos soluções sensatas diante de situações enganosas quando ja tivermos adquirido a capacidade de enxergar os factos e acontecimentos tais quais são na realidade.
No « Livro dos Médiums » de Allan Kardec, podemos ler : « Os Espíritos perversos de preferência, se aproximam dos homens que procuram atormentar do que dos Espíritos bons, dos quais se afastam o mais possível. Nessa aproximação com os humanos, quando encontram aquêles que os moralizam, a principio não os escutam – riem ; depois, se sabem considerá-los, êles acabam deixando-se tocar. Os Espíritos elevados não lhes podem falar senão em nome de Deus – e isto os apavora. Certamente o homem não tem mais poder que os Espiritos superiores, mas sua linguagem se identifica mais com a sua natureza e, vendo o ascendente que pode exercer sôbre os Espíritos inferiores, melhor compreende a solidariedade existente entre o Céu e a Terra ».
« Aliás, o ascendente que pode o homem exercer sôbre os Espíritos é proporcional à sua superioridade moral. Ele não domina os Espíritos superiores, nem mesmo aquêles que, não sendo superiores, são bons e benevolentes ; mas pode dominar os Espíritos que lhe são inferiores em moralidade. » E sobre a subjugação corporal : « Sim, (é) uma espécie de loucura cuja causa é desconhecida do mundo, mas que se não relaciona com a loucura ordinária ». (…). Quando os médicos conhecerem bem o Espiritismo saberão fazer bem essa distinção e curarão mais doentes do que duchas * ».
Em conclusão.
Estamos de facto convencidos que em vez de ignorar estas questões tão importantes, quanto úteis, a medicina, faria melhor em estuda-las a fundo e levar em conta a experiência da doutrina espirita. Se é certo que a Organização Mundial da Saúde OMS) já recomenda desde há alguns anos, a que os médicos levem em conta o que lhes dizem os seus pacientes a este respeito e principalmente sobre a questão da obsessão, infelizmente a imensa maioria deles não so ignoram esta recomendação, da organização internacional, como continuam no tradicionalismo quanto a esta forma de inquietação e perturbação tão espalhada.
E como acrescenta O Livro dos Médiums, pagina 220.7. (…) « Se a certas pessoas se podem interditar as comunicações espiritas, não se podem impedir as comunicações espontâneas, dadas a essas mesmas pessoas, pois não se podem suprimir os Espíritos nem impedir a sua influência oculta. Isto parece com vistas (ser claro). Seria loucura querer suprimir uma coisa que oferece grandes vantagens, apenas porque alguns imprudentes dela podem abusar. O meio de prevenir tais inconvenientes é, ao contrario, tornar essa mesma coisa bem conhecida. »
Muitas comunicações têm lugar, nas mais diversas condições e por ignorância, ha quem fale de loucura ou prescreva tratamentos anti-anxiogénicos e psiquiátricos, quando na realidade bastava sair da tradicional negação vencendo as barreiras intelectuais e teóricas que se forjaram ao longo dos séculos, muito especialmente no seio de movimentos religiosos materialistas.
E este o fim que nos propômos, e como tal, as Editions Primaveris, se esforçam em levar até junto do seus leitores a mensagem dos Espíritos Superiores, contidas nas obras da Codificação Espirita e naquelas que se fundamentando nelas transmitem ensinos de qualidade.
Acrescentamos que não é porque certos médicos ou pacientes abusam da medicação e da farmacologia que se devem impedir as medicações alopáticas, e outras, que tanto ajudam a vencer doenças e situações preocupantes.
* Duchas – banhos de chuveiro que se aplicam (aplicavam) a alguém com fins terapêuticos, isto é, de tratamento e cura.