A morte segundo certas religiões
O que dizem certas religiões sobre a morte? Existe uma diversidade de dogmas relativos ao fenomeno da morte. Geralmente quando a esta se referem é a morte do corpo e como se o desagregamento deste constitui-se o fim do Sêr na sua totalidade e essência, o seu desaparecimento para sempre. Chamadas de doutrina, filosofia, ciência ou religião, são no entanto, ideias que guiam a nossa concepção do que é a morte, e, o que existe ou não depois dela.
Quando certos movimentos religiosos nos falam da alma, o desacordo aparece entre uns e outros. Sendo para uns o fim, sem alternativa, a partir deste fenomeno nada mais existe, ou se aceitam a existência de algo é apenas uma incerta referência. Para algumas destas religiões, que assentam a sua fé em leituras biblicas, deturpadas segundo os seus interesses, tudo acaba e se termina é o caso do movimento « Testemunhas de Jéhova » qui consideram que a alma e o corpo morrem os dois.
« No fim dos tempos, certos mortos, alma e corpo, serão ressuscitados, para viverem uma vida eterna no Paraiso estabelecido sobre a Terra. Somente os justos voltarão, entendamos como tal os membros da seita que seguiram as directivas sem discussão ».
Para a religião catolica, a alma persiste e mantêm-se para além da morte, dai as homenagens que lhe são prestadas, as orações, missas e outros actos religiosos que lhe são oferecidos. Mas também aqui, nenhuma explicação é prestada, nem se da atenção ao que diz o Evangelho quando Jesus fala para Nicodemos, dando-lhe a entender ser a Alma imortal e necessitar de viver diversas existências, até cumprir a sua progressão e aperfeiçoamento.
Para o protestantismo segundo as diversas correntes que a ele se referem também muito divergem os pontos de vista :
« Para os presbiterianos ela (a morte) aparece como uma transição, dolorosa e ritualizada, para a vida eterna e para o posterior reencontro dos que aguardam a redenção não so da alma, mas de toda a terra, que se deve fazer nova e restaurada, por meio de uma segunda vinda de Jesus Cristo ». (…) Ainda : « A vida, aqui na terra, para eles, é apenas um tempo de transição para a obtenção da plenitude do significado da criação e da vida. » (1)
Para a corrente neopentecostal, « a morte aparece como um facto natural que significa, de certa forma, o fim de um fluxo constante de bençãos que o fiel deve buscar em sua vida presente. Por isso a morte não tem espaço como ritual religioso nos cultos ou eventos desse grupo, mas sim os rituais de cura divina e de busca da prosperidade financeira na vida terrena » (…) Defacto « Os neopentecostais valorizam a acção de Deus na vida do fiel que se mostra por meio da prosperidade fisica e financeira, no plano do imediato, da vida na terra, demonstrando uma fé afinada aos moldes do mercado capitalista ». (2)
Para a religião islamista « a morte é uma realidade que ninguém pode esquivar ou ficar a salvo dela, é uma transição entre mundos. O ser humano abandona o mundo da matéria e passa a viver uma outra vida. O Islamismo acredita que a existência humana continua apos a morte na forma de ressurreição fisica e espiritual. Para os muçulmanos existe uma relação directa entre o comportamento do individuo na terra e a vida apos a morte. A vida apos a morte sera de recompensas e repreensões correspondentes à conduta terrena. Para eles, crer na vida apos a morte os obriga a fazer o certo e ficar longe do pecado. Os muçulmanos creem que vivendo conforme os ensinamentos divinos, não ha motivos para temer a morte. Por isso, vivem tranquilos com a certeza da reencarnação. » (…) «A morte é a transição de uma forma de existência para outra. » (3)
Para a corrente cristã-ortodoxa « a morte é o destino comum dos homens. Mas para o homem não é um aniquilamento, mas so a separação da alma e do corpo. A verdade da imortalidade da alma humana é uma das verdades fundamentais do cristianismo. » (…) « Ora Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos ». « (…) Depois da morte o homem também é submetido a um julgamento que é chamado de « particular » para distingui-lo do juizo final geral. E facil na visão do Senhor recompensar um homem « no dia da morte de acordo com sua conduta » diz o sabio filho de Sirach (11,26). O mesmo pensamento é expresso pelo Apostolo Paulo : « E como aos homens esta ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juizo » (Heb. 9,27.) (4)
Para o espiritismo
A morte para esta corrente filosofico-cientifica, não é o fim, mas sim o começo de uma outra etapa evolutiva. A vida no corpo físico é vista como um aprendizado para o espírito nele encarnado. Quando morremos de corpo, sabemos que vamos para o plano espiritual, levando o aprendizado da vida que vem de cessar e tudo quanto auguramos nas vidas anteriores.
Também assentamos nossa fé, cientes da reencarnação e na individualidade da alma. Sendo cada alma única, esta mantém as suas características uma vez residindo na espiritualidade. A morte ou desaparecimento da vida é apenas um episodio, na existência imortal do Espirito (Alma), cujo corpo carnal lhe serviu de vestimenta ou envelope, na sua trajetoria terrestre. A morte do corpo, tem consequências para as moléculas materiais que se esvaiem das suas energias e vão desaparecendo atravéz da sua transformação no solo ou meio terreno.
Assim, a existência na Terra (e noutros planetas) é o caminho dos Espíritos (Almas) em direcção a Espiritos mais evoluídos, tendo assentado a sua existência (ou existências) na pratica exclusiva do bem, na bondade, na tolerância, e na solidariedade. Na caridade, no perdão e no amor ao semelhante o que também muito contribui para dar encalço e estimular para nos içarmos a outros patamares de progresso pelo caminho da evolução.
Sabemos que a evolução é propria a todos os sêres da natureza e com mais intensidade nos sêres humanos. Mesmo aqueles que, por sua renitência e livre decisão, se mantêm em determinado patamar e não envidam esforços para o bem, estes também acabarão por retomar novo rumo e prosseguirão na direcção do progresso. Não nos parece que haja estratificação eterna, é aqui que para os espiritas, reside a justica suprêma, a bondade e o amor de Deus.
Bibliografia
(1) – Presbiterianos, adeptos da corrente protestante, cristã. Citações de Ana Keila Mosca Pinezi, da Universidade Federal do ABC, Santo-André-SP, Brasil.
(2) – Pentecostais, adeptos da corrente protestante, cristã. Citações de Ana Keila Mosca Pinezi, da Universidade Federal do ABC, Santo-André-SP, Brasil.
(3) – Instituto Brasileiro de Estudos Islâmicos. Ragip S.M. Ritos de Passagem e Visão pos-morte. In : Incontri D., Santos FS, organizadores. A arte de morrer – visões plurais. Vol. 1 Bragança Paulista : Comenius ; 2007. p. 280-288.
(4) – A corrente ortodoxa tem seu fundamento no cristianismo, diverge do catolicismo depois do Concilio de Nicéia no século IV.